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Antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é autora de "A Invenção de uma Bela Velhice"

'Fascistas, não passarão!'

Os psicopatas genocidas nos transformaram em um país de impotentes, ansiosos e deprimidos

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Fiquei muito impactado com a sua coluna “Tristeza não é doença”, Mirian. Não quero negar, silenciar ou banalizar a sua tristeza. Não quero ser mais um chato caga-regras que acredita que tristeza faz mal para a saúde e é contagiosa. Não sou um ignorante que acha que o pensamento positivo cura tudo, e que temos que ser alegres e otimistas 100% do tempo. Mas quero que você saiba que não está sozinha no seu sofrimento, medo e desesperança.

Eu também estou muito triste, angustiado e com medo. Também não consigo dormir e me sinto culpado por não fazer mais do que estou fazendo. É difícil aceitar que não tenho o poder de mudar o curso da nossa trágica história, nem de salvar as vidas dos brasileiros. Tento seguir o velho ditado: “O que não tem solução, solucionado está”, e me concentrar em resolver só o que depende de mim. Procuro fazer o máximo e o melhor que consigo fazer agora.

Busco ser “meio Pollyanna” e ter um pouco mais de paciência, equilíbrio e esperança para acreditar que tudo vai passar, que tudo vai se resolver no momento certo, mesmo que demore. Repito como um mantra: vai passar. Tento adotar a filosofia de um dia de cada vez, mas confesso que não está fácil. Tenho tido muitas crises de ansiedade. E se eu ficar doente? E se meus pais morrerem? E se virarmos uma Venezuela da extrema direita?

A Organização Mundial da Saúde provou que o Brasil sofre uma epidemia de ansiedade. Antes da pandemia, o país já tinha o maior percentual de pessoas ansiosas do mundo: 20 milhões de brasileiros. Já éramos os campeões mundiais no consumo de antidepressivos, ansiolíticos e remédios para dormir. E um dos maiores consumidores de Viagra no mundo inteiro. Imagine agora. É o fim do mito do brasileiro como um povo alegre, livre e feliz.

A maioria dos brasileiros está com medo da maldade, do ódio e da violência generalizada. Só os sádicos criminosos não sofrem física e psicologicamente com a tragédia brasileira. Eu não consigo nem mais ver os telejornais. Todos os meus amigos estão deprimidos, ansiosos, estressados, exaustos, doentes, sem conseguir dormir e transar, bebendo muito, tomando Rivotril, Lexapro, Lexotan e outras drogas mais pesadas. Só com calmante e antidepressivo dá para suportar tanta intolerância, ignorância e perversidade. Como não ficar deprimido com quase 600 mil mortes e milhões de vidas destruídas, sabendo que poderíamos estar sendo vacinados desde dezembro de 2020? Como não ficar em pânico com os fascistas fanáticos ameaçando a democracia diariamente?

Mirian, você sempre diz que tem 93 anos como seus melhores amigos, mas que nunca deixou de ser a menina de quatro anos que foi um dia. Que tal aprender a “escutar bonito” e se tornar a melhor amiga dessa menininha que está triste e apavorada com a calamidade brasileira? Ela precisa do mesmo cuidado, atenção e amor que você dedica aos seus nonagenários. Precisa se sentir segura e protegida da maldade, do sadismo e da barbárie.

Quando sabemos que ainda somos a mesma criança que um dia fomos, e que sentimos a mesma tristeza, medo e sofrimento que todos os brasileiros estão sentindo, nos sentimos menos sozinhos, não é verdade?

Está muito difícil enxergar o fim dessa tragédia, mas tenho certeza de que os brasileiros que defendem a democracia, a paz e a justiça social são muito mais numerosos e corajosos do que os golpistas covardes que vomitam ódio e violência. Sei que posso estar sendo “meio Pollyanna”, mas acredito que a vacina contra a doença do fascismo está na nossa união, força e coragem. “Unidos, venceremos. O povo unido jamais será vencido. Fascistas, não passarão!”.

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