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Correspondente da Folha na Ásia

Descrição de chapéu toda mídia

Cadê a prova, além de você vir aqui e falar?, cobra repórter nos EUA

Jornalistas de AP e NPR questionam porta-vozes por evidências do que o governo diz sobre fatos na Rússia e na Síria

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O noticiário americano ainda não reflete a mudança, mas dois jornalistas resolveram duvidar do que vem dizendo o governo de Joe Biden, sobre o que se passa na Rússia e na Síria.

No diálogo reproduzido acima e transcrito aqui, Matt Lee, que cobre o Departamento de Estado para a agência Associated Press, questiona o porta-voz Ned Price sobre o suposto plano russo para justificar um ataque à Ucrânia, com perguntas como:

"Você não mostrou nenhuma evidência para confirmar isso... Atores? Sério? Isso é território Alex Jones, em que você está entrando agora. Que evidência você tem para sustentar a ideia de que existe algum filme de propaganda em produção?"

Jones é o apresentador de rádio e documentarista de extrema-direita, conhecido por falsificar informação.

Lee insistiu seguidas vezes na entrevista coletiva, cobrando as provas. Price acabou argumentando que as coisas são assim, que é preciso "proteger as fontes e os métodos" do governo, que Lee "tem feito isso há bastante tempo" e deveria saber. No que o repórter reagiu:

"É isso mesmo. E eu me lembro das armas de destruição em massa no Iraque, e me lembro que Cabul não ia cair. Me lembro de muita coisa. Então, cadê a informação, além de você vir aqui e falar?"

O diálogo continuou assim até alcançar um ponto em que o porta-voz contra-atacou.

Price: "Se você duvida da credibilidade do governo dos Estados Unidos, do governo britânico, de outros governos, e quer buscar consolo nas informações que os russos estão divulgando, você é quem sabe".

Lee: "Conforto? Eu não quero... Não estou perguntando o que o governo russo está dizendo. O que isso significa?".

O porta-voz da diplomacia americana chamou então outro jornalista e cortou de vez o assunto.

Não foi muito diferente com a porta-voz do próprio Joe Biden, Jen Psaki, depois de ela anunciar noutra coletiva que um líder do Estado Islâmico teria se suicidado e matado os próprios filhos, durante um ataque americano. O diálogo está transcrito aqui.

Ayesha Rascoe, da rede de rádio NPR: "Sobre as mortes de civis na Síria, o governo está dizendo que elas foram causadas integralmente pela detonação da bomba? Existe alguma evidência para sustentar essa ideia? Porque pode haver pessoas céticas sobre o que aconteceu com os civis".

Psaki: "Cético em relação ao relato dos militares dos Estados Unidos de quando eles foram e derrubaram o líder do Estado Islâmico? De que eles não estão fornecendo informações precisas e o Estado Islâmico está fornecendo informações precisas?".

Rascoe: "Bem, não o Estado Islâmico, mas os EUA nem sempre foram honestos [straightforward] sobre o que acontece com civis. Isso é um fato."

Em ambos os casos, o governo democrata dá a entender que os repórteres devem aceitar sua versão porque a alternativa é acreditar no inimigo. Os episódios vêm repercutindo entre jornalistas americanos, sobretudo nesse ponto.

Alerta o apresentador Steve Inskeep, também da NPR: "Responder 'acredite em mim ou acredite no Estado Islâmico' não é resposta. Este país tentou fazer guerra no modelo 'você está conosco ou contra nós' e também não funcionou".

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