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Paulo Vieira, do Jornalistas que Correm, fala tudo sobre corrida –mesmo aquilo que você não deveria saber

Após perder US$ 29 bi em valor de mercado, Nike agita SP com evento para muitas tribos

Em meio a crise, marca mostra força com corrida em quatro zonas da cidade e 13 mil inscritos

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Diversidade, inclusão, sustentabilidade, propósito. Não há empresa que não queira trazer a conversa para essas canchas hoje em dia, mesmo que ela seja, digamos, uma mineradora e o máximo que tenha a oferecer seja, imaginemos, a preservação de uma mata secundária em fazenda de uvas para produção de vinho de inverno a R$ 300 a garrafa.

O nome técnico disso, eu acabo de inventar, é "winewashing".

Quando a coisa aperta, muitas rezam pelo velho rosário de São Jack Welch, ex-CEO da GE, o tal "maior executivo de todos os tempos", que se orgulhava de distribuir lucro para acionistas e de cortar 10% dos funcionários a cada ano.

A Nike, cuja curta vida corporativa inclui possivelmente a grande história de branding do mundo –o logotipo e o slogan são apenas o começo–, vê-se agora premida por maus resultados financeiros globais e uma perda de 20% de valor de mercado em apenas dois dias, no fim de junho.

Vinte bi de verdinhas escorrendo ralo abaixo.

O receituário convencional, que já vinha sendo aplicado, deve agora envolver maior foco num determinado tipo de comprador, livrando-se, muito por pressões de novos players de mercado, da ideia de oferecer "tudo para todos".

Corta para o Brasil.

Desde o fim de 2020, a operação brasileira, sob o nome Fisia, faz parte do grupo SBF (da Centauro), e o ano passado foi marcado, grosso modo, por queimas de estoque. Na carta aos acionistas no primeiro trimestre de 2024, o tema é tratado: "na Fisia, redução de 69 dias de estoque –menos 26,3% em relação ao primeiro tri de 2023".

Logo do Nike no prédio da Bienal - Paulo Vieira

O preço dos tão icônicos tênis da Nike ficaram bastante atraentes.

(Mas e para achar um Nike Free primeira edição?)

Tudo para dizer que no meio desse furdunço a marca vai fazer um dos maiores eventos de corrida de São Paulo, talvez o maior da história em termos de bloqueio de ruas paulistanas, neste domingo (14). A marca não fazia corridas proprietárias no Brasil desde 2013.

São na verdade quatro corridas, quatro distâncias diferentes com largadas de pontos distintos de quatro zonas da cidade: Barra Funda, 5km; Centro Velho, 10km; Mooca, 15km; Ibirapuera, 21km.

A chegada é comum, no Pacaembu, onde atrações de pós-prova esperam os corredores.

Segundo Aline Cupido, gerente sênior da Fisia e responsável pela divisão "running" da Nike, 600 pessoas, considerando aí terceirizados, estão envolvidas.

As inscrições esgotaram-se rapidamente e o local de entrega dos kits ("Expo"), onde nesta sexta (12) e sábado (13) ocorre também uma programação de palestras, é o prédio da Bienal de São Paulo, no Ibirapuera.

Estive lá nesta manhã de sexta e a Expo impressiona pela qualidade do que oferece para quem também não está inscrito. Há teste de tênis e longa relação de mesas e palestras abertas.

Entre os palestrantes, algumas figuras-chave daquelas bandeiras corporativas citadas lá no começo, que a Nike/Fisia segue podendo hastear.

Propósito e inclusão encarnam-se claramente na figura de Neide Santos, fundadora do projeto Vida Corrida, que treina corrida e capacita em inglês e informática hoje 200 crianças e 200 adultos no Parque Santo Dias, no Capão Redondo.

Roupas em tecido de guarda-chuva do Projeto Vida Corrida, de Neide Santos - Paulo Vieira

Neide sobreviveu a desgraças muito reais (e tragicamente comuns) de vida de migrante nordestina órfã e residente num bairro violento de periferia, que lhe levou marido e filho, para montar o Vida Corrida em 1999.

A Nike é mantenedora do projeto há 15 anos.

Neide fala às 19h desta sexta e mantém na Expo uma lojinha com jaquetas feitas a partir do tecido de guarda-chuvas. Costureira de ofício, ela supervisionou a confecção das peças.

A Nike vai apresentar também os grupos de corrida –"crews"– que apoia pelo Brasil, entre eles o Prjct Run, fundado em 2017 em São Paulo por Débora Gonçalves. O Prjct surgiu basicamente para ajudar mulheres a correr juntas, para evitar, de partida, o assédio masculino.

Debora é negra e chama o Prjct, com efeito, de "comunidade de black runners". Para Aline, da Fisia, "Débora é uma líder que incentiva mulheres que hoje moram em locais de vulnerabilidade a correrem em segurança. Sendo uma mulher, já é incrível; sendo uma mulher preta, mais incrível ainda".

É difícil dizer até quando tudo isso deve durar. A corrida de domingo não tem sua continuidade assegurada para 2025 e pode ou não ser replicada para outras praças. Trata-se de um teste, como afirmou Aline.

Da mesma forma, ninguém gravou em pedra que os acordos com os grupos de corrida periféricos e com Neide seguirão pela eternidade. Mas os contratos vêm se renovando anualmente e Neide recebe aportes da marca há 15 anos. Significa.

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