Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012
Brasil quer acordo para estudar moeda comum, mas tenta afastar confusão sobre fim do real
Governo deve assinar documento para abrir estudos sobre viabilidade do modelo
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Na viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Argentina, nesta segunda (23), o governo deve assinar um acordo para criar um grupo de trabalho que vai estudar a viabilidade da moeda comum no médio e longo prazo.
Pelo lado brasileiro, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) tem tentado afastar a confusão de que se trataria de uma moeda única, como o euro. Até para evitar engano, a nomenclatura usada será "unidade de conta". Ele têm dito que o objetivo não é substituir as moedas nacionais e sim facilitar o comércio entre os países, prejudicado pelas restrições de divisas da Argentina.
O acordo também deve abarcar o crédito à exportação e o livre movimento de capitais entre os países, assuntos de alto interesse na indústria brasileira, que enfrenta dificuldade para retirar dinheiro de dentro da Argentina nos negócios.
A avaliação é que o espaço do Brasil no comércio internacional da Argentina foi ocupado pela China com financiamento em moeda chinesa para os argentinos importarem produtos chineses, além de uma linha de swap cambial de um banco central para outro.
A ideia é estimular o crédito à exportação para o país vizinho por meio de crédito exclusivo para pagar compra de produtos e serviços brasileiros. Nesse modelo, a empresa exportadora de um produto para a Argentina toma o pagamento à vista no banco, que fica com o apoio do fundo garantidor de exportação, ou seja, o banco leva o risco do Tesouro Nacional, enquanto o fundo fica com o risco soberano da Argentina, que é fraco, mas exige uma garantia adicional de garantias reais, com contratos de venda como petróleo, soja, trigo, gás, que vão estar depositados fora da Argentina, de modo que sejam executados.
Por este caminho, só há empréstimo e garantia pelo lado brasileiro se a Argentina oferece em troca um colateral com garantias reais, que são ativos líquidos conversíveis em dólar ou reais. A Argentina fica com o risco comercial e crédito do importador em uma operação feita em reais com um seguro que pode ser aberto em caso de duplo default, se o importador não tiver reais para pagar o banco aqui, e se a Argentina não tiver o recurso para pagar o Brasil.
Para quem defende o estudo da moeda comum ou unidade de conta, a avaliação é que, ainda assim, ela seria importante para dar condições ao Brasil de coordenar a política econômica na região.
Joana Cunha com Paulo Ricardo Martins e Diego Felix
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