Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012
'Previdência é só a gorjeta da entrega', diz representante de motoboys
Para Gil Almeida, do SindimotoSP, proposta de empresas como Uber e iFood para a regulação do setor não resolve o problema do trabalhador
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Presidente do SindimotoSP e uma das lideranças que participa das conversas com o governo sobre a regulação dos serviços de entrega por aplicativo, Gil Almeida dos Santos afirma que a gestão Lula terá de separar o que é proposta séria e o que é proposta fabricada se quiser contemplar os direitos da categoria.
Ele afirma que a pauta da seguridade, defendida por empresas como Uber e iFood, é a "gorjeta da entrega", não o tema principal a ser discutido na mesa de negociações.
"Antes de discutir a gorjeta da entrega, temos que discutir o valor da entrega", disse Gil, que também preside o Conselho Nacional de Motoboys e Entregadores Ciclistas.
As pautas defendidas por ele, Paulo Galo e outras lideranças da categoria, incluem temas como acordos coletivos, salário mínimo, reajuste anual dos salários, redução de jornada de trabalho, adicional de periculosidade, valor de entrega por quilômetro, contratação por hora, fim do bloqueio feito pelos aplicativos sem aviso prévio e a desoneração de impostos para empresas que contratarem motofretistas e ciclistas.
"Não entendemos como a questão da seguridade chegou ao governo. Ela foi voando e caiu na mesa deles? É um governo com viés nas questões sindicais, que conhece a importância dos instrumentos coletivos, das convenções coletivas, das proteções trabalhistas e que sabe muito bem que só a seguridade não vai resolver o problema. Temos que partir do mínimo do direito pra cima, não esvaziar a discussão", afirmou Gil.
Na semana passada, o governo se reuniu com representantes de plataformas digitais, como Uber e iFood, além de associações como o MID (Movimento Inovação Digital) e Amobitec, que representam as empresas de entregas em atividade no país.
Há uma avaliação, entre pessoas que acompanham o debate, de que o governo estava focado na inclusão dos entregadores na Previdência e na formalização nos moldes da CLT, mas as reuniões mudaram a perspectiva.
Também houve o problema da representação. Inicialmente, o Ministério do Trabalho havia chamado apenas as centrais sindicais para discutir o tema e excluiu os sindicatos de entregadores, aumentando o ruído dentro da categoria. O convite para participar das discussões surgiu somente após a Aliança dos Entregadores de Aplicativos convocar uma manifestação para 25 de janeiro.
"A gente quer sugerir aos presidentes das centrais rasgarem os acordos coletivos das respectivas bases e só oferecer a seguridade para os trabalhadores que eles representam. Fica feio para as centrais pedirem reforma sindical endossando a seguridade, um ponto que não resolve o problema dos trabalhadores de entregas", disse Gil.
Secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, contesta as críticas de Gil. Ele afirma que o governo fez uma reunião inicial com os presidentes de cada central sindical para iniciar as negociações e receber deles indicações de lideranças. A partir disso, os sindicatos tomaram a frente das conversas.
"Ao contrário do que disse o Gil, não é a intenção de nenhuma central sindical fazer o papel do sindicato. Está claro que são os sindicatos, federações e confederações de ramo que fazem os acordos e as convenções coletivas. Nosso papel, como central sindical, é intermediar as negociações. Foi o que fizemos. A Força Sindical tem representante nesse ramo e indicou o Nonato Alves, presidente da Federação Nacional de Mototáxis, como negociador", disse.
Joana Cunha com Paulo Ricardo Martins e Diego Felix
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