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Não basta emitir menos no futuro: temos que adaptar agora

Falta financiamento e preparo em busca por soluções para crise climática

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Clarissa Gandour

Professora da FGV EESP é doutora em economia pela PUC-Rio e especialista em políticas públicas para enfrentamento da crise climática. Sua pesquisa apoia a ação climática baseada em evidência

Falta financiamento e falta preparo. É essa a mensagem (em tradução livre do original em inglês, "Underfinanced. Underprepared.") que está estampada na capa do Adaptation Gap Report 2023, relatório anual do Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas (Pnuma) focado em medidas de adaptação à crise climática. No mesmo ano em que o mundo registrou temperaturas recordes, secas históricas, ondas de calor fatais, enchentes devastadoras e terríveis tempestades, a adaptação climática perdeu fôlego.

As medidas para enfrentar a crise climática podem ser divididas em duas frentes de atuação: mitigação e adaptação. Medidas de mitigação buscam reduzir emissões de gases de efeito estufa (GEE) e, em menor escala, capturar esses gases. Combate ao desmatamento, transição de fontes de energia fóssil para renováveis e restauração de ecossistemas degradados são alguns exemplos. Se o mundo emitir menos, há menor acúmulo de GEE na atmosfera e, portanto, uma escalada mais lenta da temperatura média global.

Incêndio em Santarém no Pará - Reprodução/Redes sociais

Já as medidas de adaptação são aquelas que visam reduzir os impactos negativos da crise climática e aumentar a resiliência das pessoas aos choques associados à crise. Elas contemplam alterações em processos, práticas ou sistemas que já existem para adequá-los a uma nova realidade – daí o termo "adaptação". É um conjunto de medidas bastante diverso, que inclui fluxos migratórios para deslocar pessoas de áreas de alto risco para aquelas de menor risco, realocação de fatores produtivos para setores e atividades menos afetados pela crise e criação de instrumentos financeiros que permitam fazer hedge contra riscos climáticos.

São também medidas de adaptação as inovações tecnológicas e as alterações em infraestrutura que proporcionam maior segurança e qualidade de vida em um mundo sujeito a eventos climáticos mais frequentes e mais intensos. Essas medidas têm o potencial de reduzir os custos financeiros e humanos de ocorrências como as recentes secas que castigaram o Norte do país, as tempestades que deixaram partes da capital paulista sem energia durante dias e as enchentes que causaram transtorno, sofrimento e perdas enormes na região Sul e no Rio de Janeiro.

Não deveria ser surpresa afirmar que adaptar custa caro e requer preparo, esforços e atenção específicos. A conclusão do relatório da UNEP, de que o investimento e o planejamento que existem hoje para adaptação são insuficientes, também não é novidade para quem acompanha a área climática.

Isso não a torna menos urgente, tampouco menos sombria. Ouso dizer que ela deveria ser anunciada em alto e bom som em diversos meios – desde as reuniões fechadas entre chefes de Estado até as trocas de ideia na sociedade civil, passando pela academia e pelo ativismo do terceiro setor. O tema simplesmente não recebe o destaque que merece.

Reduzir emissões é crucial e imprescindível para evitar um futuro trágico. No entanto, estamos vivendo os efeitos negativos da crise agora e precisamos de ações capazes de atenuá-los. O mundo ganha tempo ao mitigar a crise climática, mas ganha resiliência e força ao se adaptar a ela.

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