Considerando os níveis atuais de emissões e os compromissos assumidos pelos países para frear as mudanças climáticas, o mundo está no caminho de ficar quase 3°C mais quente neste século, de acordo com uma análise Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) publicada nesta segunda-feira (20).
O relatório anual sobre a Lacuna de Emissões avalia os compromissos das nações no combate às mudanças climáticas comparados com as medidas necessárias para impedir os piores efeitos da crise do clima. O estudo aponta que o mundo terá entre 2,5°C e 2,9°C de aquecimento em relação os índices pré-industriais se os governos não acelerarem o corte de emissões.
Caso do planeta de fato fique 3°C mais quente, cientistas preveem que vários pontos catastróficos irreversíveis podem ser ultrapassados, como o derretimento de calotas polares e a seca da floresta amazônica. Neste cenário, vastas regiões do planeta se tornariam praticamente inabitáveis para os seres humanos.
A diretora executiva do Pnuma, Inger Andersen, instou as nações do G20, responsáveis por cerca de 80% das emissões, a liderarem as reduções globais de emissões e acelerarem a sua transição energética. Algumas, alertou ela, estão em "modo pausa".
"É absolutamente crítico que o G20 intensifique os seus esforços", disse Andersen à agência de notícias AFP.
A temperatura média do planeta já está 1,2ºC acima da era pré-industrial e este ano deverá ser o mais quente já registrado. O relatório salienta que "o mundo está testemunhando uma aceleração perturbadora no número, velocidade e escala dos recordes climáticos quebrados".
"Os líderes devem redobrar dramaticamente os seus esforços, com ambições recordes, ações recordes e reduções recordes de emissões", disse o secretário-geral da ONU, António Guterres, em coletiva de imprensa. "Isso exige arrancar as raízes venenosas da crise climática: os combustíveis fósseis".
O levantamento mostra, ainda, que as emissões previstas para esta década precisam cair substancialmente para que o Acordo de Paris seja cumprido. O compromisso assumido por mais de 190 países em 2015 é de manter o aquecimento global muito abaixo de 2°C, com esforços para que o índice não ultrapasse 1,5°C.
Até 2030, as emissões globais deverão ser 28% inferiores ao que as políticas atuais sugerem para permanecer abaixo dos 2ºC, e 42% inferiores para alcançar o limite mais ambicioso de 1,5ºC.
Mesmo no cenário mais otimista, a possibilidade de cumprir a meta de 1,5ºC é agora de apenas 14%, diz o documento.
O Relatório sobre a Lacuna de Emissões foi lançado dez dias antes do início da COP28, a cúpula do clima da ONU, que ocorre entre 30 de novembro e 12 de dezembro em Dubai, nos Emirados Árabes. Os líderes mundiais se reunirão com o objetivo de manter viva a meta estabelecida no Acordo de Paris.
A diretora executiva do Pnuma se considera otimista com a COP28, apesar das divisões causadas pela invasão russa da Ucrânia e pela guerra entre Israel e o Hamas.
"Os países e as delegações compreendem que, independentemente das divisões profundas que existem e são inegáveis, o meio ambiente não espera e o clima certamente não o fará", disse Andersen.
Segundo a Organização Meteorológica Mundial, os níveis dos três principais gases de efeito de estufa —dióxido de carbono, metano e óxido nitroso— bateram recordes no ano passado.
As emissões de gases causadores do efeito estufa subiram 1,2% entre 2021 e 2022, para um recorde equivalente a 57,4 gigatoneladas de dióxido de carbono.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.