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Jornalista especializado em biologia e arqueologia, autor de "1499: O Brasil Antes de Cabral".

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Fio de esperança

Crise do ambiente coloca em xeque saúde mental de futuros biólogos, diz estudo

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Os superpoderes tecnológicos que a nossa espécie obteve ao longo dos últimos 200 anos produziram um paradoxo difícil de engolir. Somos capazes de causar estragos imensos e duradouros à biosfera (a porção "viva" da Terra), mas esse potencial destrutivo não foi acompanhado por um aumento similar na capacidade —ou vontade— de resolver os problemas que criamos. Faz sentido, portanto, imaginar que as pessoas que estão aprendendo os detalhes mais desanimadores desse paradoxo estejam enfrentando problemas de saúde mental.

É exatamente isso o que demonstra um levantamento pioneiro no Brasil, feito por pesquisadores da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) com 250 alunos de ciências biológicas de seis universidades do país, espalhadas pelas regiões Sul, Sudeste e Nordeste.

O coordenador do estudo, Vinícius de Avelar São Pedro, já vinha notando como os estudantes andavam saindo desanimados das aulas sobre biologia da conservação, apelidada pelos especialistas de "disciplina da crise". Junto com os colegas Larissa Trierveiler-Pereira e Juliano Marcon Baltazar, ele criou um questionário que tenta esmiuçar as conexões entre esse aparente desânimo e o que os futuros biólogos têm aprendido.

Queimada em área desmatada no município de Humaitá, no sul do Amazonas - Lalo de Almeida - 20.ago.20/Folhapress

Como os autores do estudo na revista científica PLOS Biology destacam, não é possível atribuir os resultados preocupantes do levantamento apenas ao que os alunos estão aprendendo sobre a crise ambiental global. É preciso levar em conta também o fato de que os problemas de saúde mental têm crescido entre jovens adultos no mundo todo. Além disso, as mudanças trazidas pela entrada na universidade, como a preocupação com a carreira e a tentativa de formar novos laços sociais, também podem trazer impactos negativos nesse sentido.

Boa parte dos estudantes (37%), por exemplo, diz que sua saúde mental piorou desde o começo da graduação em biologia, mas por razões que não têm relação com o curso. Por outro lado, 36% dizem que essa piora está ligada à universidade, e perguntas mais específicas dão uma pista sobre o porquê disso.

Segundo a maioria dos alunos entrevistados, estudar e entender problemas ambientais piora um pouco (52%) ou muito (14%) a sua saúde mental. A maior parte deles também se considera pessimista (59%) ou muito pessimista (25%) sobre o futuro desses problemas, e quase um quarto deles diz que se sente desencorajado diante da perspectiva de procurar soluções para tais desafios. Os relatos parecem bater com a chamada eco-ansiedade, a preocupação exacerbada com o futuro ligada aos problemas ambientais.

O levantamento mostra ainda que as opiniões dos professores desses estudantes quase sempre influenciam a visão dos jovens sobre o futuro do planeta, o que levou os autores do estudo a propor mudanças de abordagem na maneira como a biologia da conservação e os problemas ambientais são ensinados e debatidos.

Não se trata de varrer as ameaças para debaixo do tapete ou de fazer o jogo do contente, mas é crucial enfocar também a capacidade de imaginar soluções e colocá-las em prática, afirmam eles. "Tentemos não colocar um peso excessivo nos ombros dos estudantes", escrevem os autores. "Em vez de dizer ‘o fardo da crise ambiental é de vocês’, tentemos mostrar que nós, profissionais da área ambiental, podemos mudar esse cenário."

Afinal de contas, sem a dedicação dos que trabalham na área, jamais conseguiríamos enxergar com tanta clareza o que deve ser feito. Preservar a capacidade de ter esperança deles —e a de todos nós— é a única alternativa possível.

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