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Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

Descrição de chapéu

Fazer fila para a fantasia

Como eu já não ia ao Brasil há muito tempo, fui à Disney de Orlando nas férias

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Como já não ia ao Brasil há muito tempo, nas férias fui à Disney de Orlando. Foi bom para matar saudades. Vi mais brasileiros do que bonecos, como sempre.

As minhas filhas, ingenuamente, foram lá para ver os bonecos. Tiveram dificuldade, claro. De vez em quando ouviam alguém gritar, com sotaque do Rio: “Zé!”. E perguntavam: “É o Zé Carioca, pai?”. Eu dizia: “Bom, tecnicamente, é”.

E depois elas ficavam um quarto de hora à procura de um papagaio. Por uma razão que me escapa, não é possível encontrar o Zé Carioca na Disney. Que o Tio Patinhas, um capitalista selvagem, tenha um papel cada vez mais discreto, para não incutir nas crianças o gosto pela acumulação de capital, compreende-se. Mas o Zé Carioca não merecia ser posto de lado. Sobretudo ali, que está em casa. Depois de São Paulo e do Rio, o Magic Kingdom deve ser a maior cidade brasileira do mundo.

Essa foi a parte mais divertida das férias: visitar o Brasil sem ir ao Brasil.

De resto, ir à Disney em agosto não é ir à Disney. É pagar para ficar em filas durante oito horas e andar em cinco diversões de três minutos. As brochuras da Disney são enganadoras, na medida em que afirmam que as pessoas vão visitar a Disney. Essa é a maior fantasia do mundo da fantasia. As pessoas não vão visitar a Disney, vão esperar na Disney. A Disney é a maior sala de espera do mundo. Se alguém quiser muito ir à Disney, deixe-se ficar em pé, ao sol, durante oito horas, na companhia de outros brasileiros, e tem 95% da experiência.

Não precisa ir a Orlando. Estes pensamentos ocorreram-me nas duas horas que esperei para andar no barco dos “Piratas do Caribe”.

E depois, nos 90 minutos de espera para entrar na nave do Buzz Lightyear, meditei sobre o seguinte: o que leva os brasileiros a procurar em um mundo de fantasia em que uma rainha má xinga a futura mulher do príncipe por ela ser feia quando vivem num mundo real em que um presidente xinga a mulher de outro presidente por ela ser velha?

É uma questão intrigante que merecia mais reflexão. Mas depois fui para a fila do Peter Pan (uma hora) e já só consegui pensar em suicídio.

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