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Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

Invasão de Brasília vai tornar o Brasil famoso no mundo depois da morte de Pelé

Evento foi notícia global e criou conceitos novos, de vândalo do bem, patriota antipatriota e de crente contra lei divina

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A invasão de Brasília ofereceu-nos algum consolo, depois dos dias tristes que vivemos. Pelé morreu, mas soubemos que, apesar de tudo, continua a ter brasileiros capazes de tornar o Brasil famoso no mundo inteiro.

As imagens correram o planeta, mostrando um acontecimento extraordinário, que deu origem a vários conceitos que até aqui pareciam constituir impossibilidades filosóficas.

O primeiro é o do vândalo de bem. Bolsonaro declarou famosamente que os seus apoiadores eram cidadãos de bem, pelo que aquilo a que assistimos foi destruição virtuosa, vandalismo decente, criminalidade honrada.

Ilustração de Luiza Pannunzio para coluna de Ricardo Araujo Pereira - Luiza Pannunzio

O segundo é o do patriota antipatriota. Os bolsonaristas, informou também o ex-presidente no seu vídeo de despedida, amam a bandeira. O que significa que é possível praticar desordem por amor a uma bandeira em que está escrita a palavra ordem.

O terceiro é o do crente que ignora a lei divina. Bolsonaristas colocam Deus acima de todos —e, no entanto, os invasores do Palácio do Planalto terão defecado nos corredores e nas salas. Ora, em Deuteronômio, capítulo 23, versículo 13, Moisés determina: "Como parte do seu equipamento, tenham algo com que cavar, e quando evacuarem, façam um buraco e cubram as fezes".

E os manifestantes íntegros que, com a intenção clara de desenvolver e melhorar a democracia brasileira, defecaram no palácio, não levaram uma pá, transgredindo a lei divina. A lei brasileira, eles não devem ter transgredido, tendo em conta a benevolência com que foram tratados pelas autoridades.

Mas talvez seja altura de alterar ligeiramente a divisa de Bolsonaro. Agora é defecar em cima de tudo —e Deus assistindo, acima dos tolos.

O episódio revelou também, para orgulho de todos, que o Brasil, quando quer, está ao nível dos Estados Unidos. Na sequência de umas eleições perdidas, os brasileiros também sabem, em nome da legalidade democrática, alegar uma ilegalidade democrática. E, em nome da harmonia e da proteção das instituições, destruir violentamente a sede das instituições.

É cada vez mais evidente que o Brasil atingiu a dimensão dos EUA. Agora, o ex-presidente dos EUA mora nos EUA. O ex-presidente do Brasil também. E até podem dizer que Bolsonaro não tem estatuto para ir a casa de Donald Trump. Mas o que é certo é que ele está em Orlando, muito perto da casa do Pato Donald. A diferença é mínima.

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