Quando, em 1962, Philip K. Dick publicou o livro "O Homem do Castelo Alto", muita gente ficou impressionada com a imaginação do autor. Ele, afinal, concebera um mundo em que os nazistas tinham saído vencedores da Segunda Guerra Mundial.
Metade dos Estados Unidos era controlada pelo império japonês; a outra metade, pela Alemanha nazista. A obra ganhou o prestigiado Prêmio Hugo, que distingue todos os anos os melhores trabalhos de ficção científica, mas apenas porque o júri não sabia na altura que criatividade a sério não era criar aquela história, mas inventar Kanye West.
Isso, sim, seria prodigioso. Claro que a melhor ficção é a que não deixa de ser verossímil, e teria sido difícil convencer o público de que um rapper negro poderia ser admirador de Hitler, e talvez tenha sido por isso que Dick se contentou com uma América dominada por nazistas.
O problema é que Kanye West também não merece crédito por ter inventado Kanye West. Na verdade, Kanye West é um plágio de um esquete humorístico de Dave Chappelle, que há quase 20 anos inventou Clayton Bigsby, um negro cego que era supremacista branco.
Marx disse que todas as ocorrências e figuras históricas surgem duas vezes: primeiro como tragédia e depois como farsa. É agora evidente que ele estava enganado. As coisas se repetem, sim, mas primeiro como farsa e depois como Kanye West.
Há dias, West foi entrevistado pelo famoso energúmeno Alex Jones. Jones achou-o um pouco extremista, acontecimento que nunca teria acontecido antes. Na entrevista, West declarou que amava Hitler, em quem detecta várias qualidades. E deu como exemplos o fato de o ditador ter inventado as rodovias e os microfones.
Tendo em conta que eu inventei as rodovias e os microfones tanto como Hitler, é possível que West me admire também. Muita gente fantasia com a hipótese de voltar atrás no tempo e matar Hitler no berço, quando ele era ainda criança, porque assim o mundo nunca conheceria o Holocausto.
Pessoalmente, tenho uma fantasia parecida, mas apesar de tudo diferente: gostaria que Kanye West pudesse voltar atrás no tempo para ir à Alemanha dos anos 1930 manifestar pessoalmente a Hitler toda a sua admiração.
E assim o mundo, provavelmente, nunca conheceria os discos de Kanye West.
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