Siga a folha

Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

Descrição de chapéu internet

O incel e o 'inpé': um estudo

Na vida real, nenhuma moça deseja conviver intimamente com eles

Assinantes podem enviar 7 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Bem sei que sou demasiado novo para usar com tanta frequência a expressão "no meu tempo isto não era assim", mas no meu tempo isto não era assim. Não havia incel. O incel é uma invenção moderna. Quer dizer celibatário involuntário.

São jovens que gostariam muito de não ser celibatários, mas nenhuma mulher se interessa por eles. No meu tempo, a gente chamava a esse tipo de pessoa "adolescente". A diferença para o incel é que o adolescente sabia, ou pelo menos tinha a forte desconfiança de que a situação em que se encontrava era da sua exclusiva responsabilidade. Nenhuma mulher se interessava por ele porque ele não era interessante. E ele fazia todos os esforços para corrigir essa falha.

Mas o incel acredita que a culpa de nenhuma mulher se interessar por ele é do sexo feminino inteiro —que, por isso, odeia. Há vários problemas neste raciocínio. Suponhamos que um jovem gostaria de ser milionário. Para sua infelicidade, não consegue, e continua a ser um pé rapado. É um pé rapado involuntário. Um "inpé". Em princípio, ele não passa a odiar o dinheiro. Compreende que não tem um direito natural à riqueza. Que terá de se esforçar para a obter. Ou herdar.

Ilustração de Luiza Pannunzio para coluna de Ricardo Araújo Pereira de 1º de setembro de 2024 - Folhapress

Eu culpo a internet. Creio, aliás, que a culpa de quase tudo é da internet. No caso dos incel, o problema é o acesso à pornografia. No meu tempo, os adolescentes quase não tinham contato com pornografia. Por vezes, um colega da escola conseguia uma revista, de um irmão mais velho, e todo o mundo se reunia para examinar o objeto. Já lhe faltavam páginas e não se conseguia muito mais do que deitar à revista um olhar furtivo, antes que um adulto aparecesse. Hoje os jovens têm acesso a toda a pornografia do mundo.

Assistem a filmes em que uma moça leva o carro à oficina e não resiste a conviver com o mecânico. Ou está em casa e não resiste a conviver com um amigo do seu pai. Ou está na biblioteca e não resiste a conviver com o bibliotecário. Ora, a experiência dos incel, que são parecidos com um bibliotecário, é diferente.

Na vida real, nenhuma moça deseja conviver intimamente com eles. Em vez de suspeitarem que talvez os filmes retratem uma realidade que não existe, decidem que é a realidade que tem um problema. Por alguma razão que, ao que tudo indica, faz parte de uma conspiração global, as mulheres desejam conviver intimamente com todo o mundo, menos com eles.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas