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Chuva em Minas expõe a anestesia geral

Enquanto os belo-horizontinos buscavam corpos na lama, Bolsonaro declamava paixão pela música sertaneja

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É preciso considerar a hipótese de Minas Gerais ficar em outro país, um que não esteja presidido por Jair Bolsonaro. A anêmica reação de Brasília à tragédia mineira choca tanto quanto as imagens: enquanto os belo-horizontinos buscavam corpos na lama, o presidente declamava paixão pela música sertaneja.

Também não se pode descartar a tese de que o melhor mesmo é os políticos não falarem nada. Porque podem incorrer na declaração do governador mineiro, Romeu Zema, para quem estava “tudo sob controle”.

Estrago causado pela chuva no bairro de Lurdes, região central de Belo Horizonte - Fernanda Canofre/Folhapress

Também nesse caso, o que se ouvia não guardava relação com o que se via. Tinha hospital alagado. Entregador de comida no alagamento. Restaurante que parecia ter se transformado em um estabelecimento à beira do rio. Barranco caído. Asfalto que desmoronou e engoliu veículos. Mais realista do que Zema, uma moradora desenhou: “Os carros passavam como se fossem de brinquedo”.

O prefeito não parecia se ver tão no controle quanto o governador. Alexandre Kalil definiu o desastre como o maior da história local.

Primeira cidade moderna planejada do Brasil, construída no fim do século 19 para ser a capital mineira, Belo Horizonte agigantou-se para virar o coração da terceira maior região metropolitana do país, com 6 milhões de habitantes. Como sói ocorrer, o planejamento desandou.

Não chega a ser difícil prever que vai dar problema. O último decênio é prova de que as tempestades do verão são mortais —de modo que dizer que caiu muita água é chover no molhado para se esquivar.

A despeito dessa obviedade, o governo federal cortou a verba para prevenção de desastres ao menor patamar em 11 anos. Foram R$ 99 milhões no ano passado. Tragédia posta, apareceu dinheiro; só em Minas, R$ 200 milhões, o dobro do desembolsado em todo o país.

Zema falou em décadas para resolver o problema. Nesse caso, a frase não chocou, talvez porque a anestesia geral com a tragédia mineira não esteja restrita aos políticos.

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