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Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.

Finanças sustentáveis e inércia

Quanto dinheiro sua empresa está disposta a perder por inércia ou preguiça?

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Mudanças climáticas requerem soluções multidimensionais. É necessária uma combinação de políticas públicas, mudanças comportamentais do lado dos consumidores e pressões competitivas pelo lado das empresas.

Um setor fundamental no combate ao desmatamento e às emissões de carbono é o financeiro: afinal, sem crédito, a maioria das empresas, mesmo na beira da legalidade, não tem como expandir produção.

Desde o início da década tenho trabalhado com instituições financeiras para incorporar questões ambientais e sociais nos processos de crédito. Desenvolvi, com colegas, um modelo de rating de sustentabilidade para empresas do setor sucroalcooleiro. A ideia era começar numa indústria para depois expandir para todas as operações de crédito do banco.

Área desmatada para abertura de pastagem dentro da Floresta Nacional do Jamanxim, próximo a Novo Progresso (PA) Lalo de Almeida/Folhapress) - Lalo de Almeida/Folhapress

O sistema é simples, adaptado para as necessidades dos gestores de contas, e funciona como qualquer modelo de rating: empresas teriam escores que variavam de 0 a 1 —quanto maior, melhor. Mais importante: os ratings tornariam o crédito mais barato para certas empresas, enquanto restringiriam o limite ou o valor dos empréstimos de outras. 

Isso é importante porque não há incentivos, para os gerentes de conta, em usar modelos que somente tornem crédito caro ou escasso. Afinal, bancos vivem de emprestar, e um modelo que somente diga não para empréstimos não sai do lugar.

Isso foi em 2014. Em 2015, publiquei um artigo acadêmico sobre isso. Mas o projeto nunca saiu do papel. E a razão para isso não foi nada especial, mas sim a maior barreira para o desenvolvimento de soluções que aumentem lucros e melhorem resultados ambientais e sociais: inércia.

Não foi difícil convencer as pessoas do banco de que era uma ideia promissora. O projeto tinha líderes. Mas, no fim das contas, a maioria dos executivos focou suas energias em outros projetos. No corre-corre do dia a dia, o modelo foi deixado de lado.

Essa experiência é bem comum em finanças sustentáveis. No meu trabalho como pesquisador e consultor, convivo com isso diariamente. Executivos querem que os resultados melhorem imediatamente—às vezes não importa que projetos deem lucro e melhorem resultados ambientais simultaneamente.

Num projeto para o setor da pecuária no Brasil, a resposta mais comum foi: a gente faz assim há anos ou décadas, não tem por que mudar.

Em projetos para empresas chinesas, a preocupação é em fazer o mínimo para agradar ao regulador. Algo parecido aconteceu com tentativas com bancos públicos brasileiros: nós já atendemos as regulações do Banco Central sobre trabalho escravo e ambiente, fazer mais dá trabalho.

Muitas vezes, executivos acham que não há solução técnica para problemas ambientais. Estão errados. 

Muitas soluções técnicas existem e são eficientes —no trabalho para a pecuária com o Center for Sustainable Business da NYU Stern, mostramos como grande parte da cadeia ganharia milhões ou bilhões com práticas mais sustentáveis, todas elas muito bem descritas. Mas não faltam desculpas para evitar os custos da mudança e o medo do desconhecido (e até mesmo preguiça).

Com o governo de extrema direita, o desmatamento já está aumentando. Não podemos contar com esse governo. O que a sua empresa está realmente fazendo de diferente para um mundo sustentável?

A hora de inventar desculpas passou, as soluções técnicas existem. Quanto dinheiro sua empresa está disposta a perder por inércia ou preguiça?

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