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Jornalista, foi secretário de Redação da Folha, editor de Cotidiano e da coluna Painel e repórter especial.

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Quanto o país perde com a evasão de cérebros?

O Brasil está passando por uma crise sem precedentes no financiamento de ciência, tecnologia e inovação

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Esta coluna foi escrita para a campanha #ciêncianaseleições, que celebra o Mês da Ciência. Em julho, colunistas cedem seus espaços para refletir sobre o papel da ciência na reconstrução do Brasil. Quem escreve é Odir Dellagostin, professor titular da UFPel, diretor-presidente da FAPERGS e presidente do Confap ​(Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa).

O Brasil está passando por uma crise sem precedentes no financiamento de ciência, tecnologia e inovação (CT&I). Com investimentos decrescentes desde o início de 2015, a comunidade científica luta para seguir produzindo. A política do atual governo vem causando grandes prejuízos e deixando sequelas nessa área vital para melhorar o desenvolvimento econômico e social do país.

Fachada do prédio onde fica a sede do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações - Roque de Sá - 15.out.2020/Agência Senado

Nesses sete anos de crise, a pós-graduação continuou crescendo. Em 2015 eram 102 mil alunos matriculados no doutorado; em 2020, 125 mil, segundo a GeoCapes. O número de doutores titulados aumentou de 19 mil em 2015 para aproximadamente 25 mil em 2021. A produção científica consequentemente aumentou, passando de 71.406 artigos publicados em 2015 para 101.385 em 2021, de acordo com o SciVal. Esses números poderiam nos induzir a pensar que estamos tendo resultados muito bons, não? Não. O futuro se mostra muito sombrio.

O valor das bolsas de mestrado e de doutorado não tem reajuste há mais de nove anos. Nesse mesmo período, a inflação acumulada alcançou 75%. A bolsa de mestrado, que na década de 1990 equivalia a mais de seis salários mínimos, hoje é de apenas 1,2 salário mínimo. A de doutorado, que chegou a equivaler a mais de dez salários mínimos em 1995, hoje, pagando R$ 2.200, equivale a apenas 1,8 salário mínimo. A consequência disso é que os melhores talentos, egressos da graduação, não estão mais buscando a pós-graduação. E quem cursa a pós-graduação com bolsa não está podendo se dedicar integralmente à pesquisa, pois precisa buscar outras fontes para poder se manter.

Quando o aluno conclui o doutorado, após dez anos de estudos e de trabalho de pesquisa, o que temos a oferecer a ele? Um pequeno número de bolsas de pós-doutorado de R$ 4.100, valor com poder aquisitivo 50% menor do que tinha em 2007. Além do baixo valor, o número de bolsas de pós-doutorado, que chegou a mais de 9.000 em 2015, hoje não passa de 5.000, somando as concedidas pela Capes e pelo CNPq. Nossos jovens doutores se veem forçados a buscar oportunidades em outros países.

Quanto o Brasil está perdendo com a evasão de cérebros? Não sabemos o número exato de doutores formados que buscaram oportunidades no exterior, pois não há um controle. Mas são muitos, sem dúvida. O custo da formação acadêmica de um doutor pode facilmente ultrapassar meio milhão de reais, considerando as bolsas e o custo da universidade onde ele estudou. Quando o perdemos, não estamos perdendo apenas o que ele custou, mas perdemos um talento que poderia estar ajudando o país a produzir mais, inovar, gerar riqueza e renda para nós. Ele, porém, se vê impelido a contribuir com um outro país.

Temos que reverter esta situação. Precisamos de mais investimentos em CT&I, de bolsas com valores dignos e de aumento expressivo no número delas, especialmente de pós-doutorado. Precisamos de programas de incentivo à inserção de doutores no mercado empresarial, além da ampliação na área acadêmica. Temos apenas 800 doutores por 100 mil habitantes. Precisamos aumentar esta densidade em pelo menos cinco vezes para nos aproximarmos da proporção de doutores de países mais desenvolvidos. Sem estancar a evasão de cérebros, oferecendo condições dignas de trabalho em nosso país, não conseguiremos alcançar este objetivo.

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