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Advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro.

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Prevendo o futuro da internet

Ideia de fiduciários da informação faria surgir plataformas cuja principal obrigação é o zelo com dados de usuários

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Na semana passada, esteve em evento no Brasil um professor da Universidade Harvard que tem por hábito acertar suas previsões sobre o futuro da rede. Jonathan Zittrain falou, em evento organizado pela HSM, que costuma trazer ao país alguns dos mais interessantes pensadores da tecnologia.

Zittrain cofundou, em 1996 —aos 27 anos—, o Centro Berkman em Harvard, instituição pioneira em estudos da rede. Foi professor em Oxford e Stanford e membro das principais organizações técnicas que construíram a internet.

Sua característica é conjugar a formação como advogado com um conhecimento profundo das questões técnicas. Devo muito a ele. Fui seu aluno em Harvard e no Centro Berkman. Seu trabalho formou uma geração inteira de pessoas que tentam seguir seus passos.

Ideia de ‘fiduciários da informação’ faria surgir plataformas cuja principal obrigação é o zelo com dados de usuários - Carlos Cecconello/Folhapress

Zittrain escreveu trabalhos que se mostraram acertados exercícios de futurismo. Enquanto boa parte dos pesquisadores tinha uma visão otimista sobre o futuro da rede, em 2008 ele lançou o livro “O Futuro da Internet e Como Pará-lo”. O livro é um conto moral sobre o que aconteceria na internet nos anos seguintes.

Zittrain previu como a rede livre e aberta construída nos anos 2000 enfrentaria ameaças que modificariam seus fundamentos. Essas ameaças, que incluem questões de cibersegurança a ataques coordenados, trariam um movimento de centralização e controle, que se mostrou verdadeiro.

Além disso, Zittrain escreveu, em 2014, o seminal artigo “Engineering an Election” (Fazendo Engenharia de uma Eleição). No texto, ele fez um alerta sobre como o movimento de centralização e controle da rede poderia ser manipulado para alterar resultados eleitorais.

O embrião das práticas que aconteceram nos anos seguintes em processos eleitorais de vários países —incluindo manipulação e supressão eleitoral— já estava vislumbrado no seu texto.

No que Zittrain está trabalhando atualmente? Vale olhar, porque ele costuma acertar suas projeções. Ele tem trabalhado com a ideia de “fiduciários da informação”. Fidúcia é palavra que significa “confiança”. Ela aparece, por exemplo, na relação entre médicos e pacientes, advogados e clientes, bem como outras profissões em que o profissional tem a obrigação de agir no interesse de quem o contrata, e não no seu próprio interesse ou no interesse de terceiros.

Por exemplo, corretores de imóveis nos EUA são obrigados a revelar para seus clientes se estão trabalhando no interesse do comprador ou do vendedor. Desse modo revelam de quem são “fiduciários”.

A ideia de Zittrain é que com relação aos dados pessoais e à informação de modo geral aplique-se também esse conceito. Ele faria surgir, por exemplo, plataformas cuja principal obrigação é com relação a seus usuários e com o zelo e a maximização de benefícios dos seus dados e informações.

Esse conceito pode ajudar a repensar a forma como a internet se organiza atualmente. Quem sabe pode até gerar uma nova geração de organizações que atuem como depositárias de dados e informações, atuando como “corretores” desses itens em benefício dos usuários. Já existem startups e iniciativas que fazem exatamente isso, mas são poucas.

Se Zittrain estará certo novamente nas suas projeções, só o futuro pode dizer.

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Já era Não fazer nada sobre segurança digital

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