Siga a folha

Advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro.

Inteligência Artificial é a nova era atômica?

Debate ressurge em época diferente; tecnologia nuclear era controlada por Estados, enquanto a IA é desenvolvida por empresas privadas

Assinantes podem enviar 7 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

São Paulo

Em 1953 os Estados Unidos dominavam uma nova tecnologia capaz de mudar o mundo: a energia nuclear. O rival naquele momento era a União Soviética, outro único país a dominar a tecnologia. Nesse contexto, o presidente Dwight Eisenhower criou a iniciativa "Atoms for Peace" (Átomos para a Paz).

Apoiado por Oppenheimer, o objetivo era compartilhar usos pacíficos da energia nuclear com aliados, em troca da aceitação de regras e limites. Isso levou à criação da Agência Internacional de Energia Atômica em 1957. Países como Paquistão e Israel construíram seus primeiros reatores nucleares por causa do programa. A União Soviética fez o mesmo e começou a transferir a tecnologia nuclear para os aliados.

Letras AI, de inteligência artificial em inglês, sobre placa de circuitos com iluminação vermelha - Dado Ruvic/Reuters

O resultado foi uma rápida expansão da tecnologia nuclear. O que logo trouxe enorme preocupação. EUA e União Soviética reverteram a estratégia e fizeram algo surpreendente: sentaram-se à mesa durante a guerra fria para conter a expansão nuclear, assinando o Tratado de Não-Proliferação Nuclear em 1968. Seu objetivo era promover o desarmamento, frear usos bélicos e preservar usos pacíficos.

Corte para o momento atual. Os EUA dominam hoje uma nova tecnologia capaz de mudar o mundo: a inteligência artificial. O grande rival desta vez é a China, que está em segundo lugar no domínio da tecnologia. Cerca 80% da infraestrutura necessária para a IA é controlada pelos dois países.

É nesse contexto que surge o debate sobre a criação de uma "Agência Internacional de Energia Atômica" para a inteligência artificial. O tema foi objeto de grupo de trabalho nesta semana na universidade de Stanford, na Califórnia, com a presença das principais empresas de IA, de integrantes do governo dos EUA e representantes de governos de países como a Índia e outros. Este colunista foi um dos participantes. O objetivo foi entender como a iniciativa "Atoms for Peace" pode trazer lições para a inteligência artificial. E pensar no que fazer a partir de agora.

Um dos temas discutidos foi se os Estados Unidos deveriam cooperar com países em desenvolvimento para promover a expansão do acesso à tecnologia da IA. Em troca da expansão, seria exigida a concordância com princípios básicos de usos seguros e pacíficos da tecnologia, tal como em 1953.

Foi também discutido se modelos mais avançados de IA (bem como os chips e as tecnologias adjacentes necessárias) não deveriam estar sujeitas a restrições de exportação e acesso.

Foi também debatida a viabilidade de se criar uma Agência Internacional de Energia Nuclear para IA, o que demandaria um esforço tão colossal quanto foi a assinatura dos tratados de não-proliferação. Só que as diferenças com o mundo de 1953 são enormes. A tecnologia nuclear era controlada por Estados. Já a inteligência artificial é desenvolvida por empresas privadas.

Além disso, as aplicações da IA são muito mais abrangentes. Podem ser usadas tanto para criar armamentos autônomos (o que é preocupante) quanto para contar piadas.

A visão que expressei é de que é mais viável no mundo de hoje a criação de um conselho de supervisão para IA que fosse multissetorial, envolvendo empresas, governo, comunidade científica e países aderentes. Esse debate está quente. O Brasil precisa participar dele com voz própria, original e altiva. Podemos ser protagonistas e não meros consumidores de soluções importadas.

Reader

Já era – Achar que o Brasil não tem condições de ser protagonista em IA

Já é – Perceber que o Brasil tem enormes capacidades para atuar como protagonista em IA

Já vem – Expectativa de que o Brasil atue no debate de IA à altura de suas reais capacidades

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas