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Sergio Duarte e Cristian Wittmann

Ratificação de tratado que proíbe armas nucleares confirmaria vocação pacífica do Brasil

Primeira reunião do Tratado de Proibição de Armas Nucleares será realizada em Viena de 21 a 23 de junho

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Sergio Duarte

Embaixador, foi alto representante das Nações Unidas para Assuntos de Desarmamento. É presidente das Conferências Pugwash sobre Ciência e Assuntos Mundiais

Cristian Wittmann

Professor da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), no Rio Grande do Sul, é membro da Campanha Internacional para a Abolição de Armas Nucleares (ICAN, na sigla em inglês)

A primeira reunião das partes contratantes do Tratado de Proibição de Armas Nucleares (TPAN) será realizada em Viena de 21 a 23 de junho. O TPAN reitera e reforça os compromissos do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), estabelece medidas de cunho humanitário e oferece um caminho para a eliminação daquelas armas de forma ordenada, segura e verificável.

O TPAN entrou em vigor em janeiro de 2021. Até agora, foi assinado por 86 países, dos quais 62 já o ratificaram. O Brasil teve participação destacada na negociação do tratado e foi o primeiro a assiná-lo em 2017, mas ainda não o ratificou. Por isso, comparecerá à reunião na qualidade de signatário, não na de membro pleno do instrumento.

Teste russo de míssil balístico intercontinental, com capacidade para carregar armas nucleares
Teste russo de míssil balístico intercontinental, com capacidade para carregar armas nucleares - 19.fev.22/Ministério da Defesa da Rússia via AFP

A reunião será uma importante oportunidade para levar adiante a implementação do tratado e facilitar a consecução do objetivo de um mundo livre de armas nucleares. Espera-se a adoção de documentos substantivos que corroborarão os compromissos assumidos e indicarão ações específicas a serem concretizadas, além da aprovação de uma declaração política e de um plano de ação.

Entre as propostas já formuladas estão a fixação de prazos para que os países nucleares que aderirem ao TPAN eliminem seu armamento e para que aqueles que abrigam essas armas em seus territórios as removam. O TPAN, aliás, é o primeiro instrumento internacional que proíbe o estacionamento de armas nucleares em terceiros países. Outra proposta a ser examinada é a definição de um prazo para a destruição de todas as armas nucleares. O TPAN, no entanto, não é uma obra acabada; muito esforço ainda será necessário para tornar realidade seus elevados propósitos.

Nos tempos atuais, a comunidade internacional se defronta mais uma vez com graves desafios à manutenção da paz e da segurança. A Carta das Nações Unidas, assinada pelos 193 países-membros, estabelece a proibição do uso ou da ameaça de uso da força nas relações internacionais e a obrigação de resolver as controvérsias por meios pacíficos.

No entanto, países armados com os engenhos bélicos de efeitos mais cruéis e indiscriminados jamais inventados –as armas nucleares– continuam a buscar uma ilusória supremacia e a despender enormes recursos financeiros para aperfeiçoar cada vez mais o potencial destruidor de que dispõem. Ao mesmo tempo, afirmam a intenção de utilizar o poderio atômico nas circunstâncias que considerem adequadas e recusam-se a participar de quaisquer iniciativas que possam levar a medidas efetivas de desarmamento.

Uma única bomba nuclear lançada sobre uma grande cidade mataria instantaneamente uma ampla parcela da população. Muitos mais pereceriam em pouco tempo, vítimas da radiação e de outros efeitos altamente perniciosos. A detonação de apenas uma fração dos arsenais existentes causaria danos ambientais irreversíveis e poderia provocar a extinção da espécie humana.

A humanidade precisa se libertar da complacência em relação a esses gravíssimos perigos. A acumulação de armas de destruição em massa não aumenta a segurança de seus possuidores e ameaça diretamente a segurança de todos os países.

Em sua Constituição e como parte dos principais instrumentos internacionais e regionais de que faz parte, o Brasil se comprometeu a não obter armas nucleares. A conclusão do processo de ratificação do TPAN pelo Congresso é matéria de interesse nacional e confirmará os compromissos assumidos, assim como a vocação pacífica e a liderança brasileira na busca de um mundo livre de armas nucleares.

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