Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.
Usuários e dependentes
Bater papo com o terapeuta e continuar bebendo ou cheirando só fará bem ao terapeuta
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
Li em meu colega Hélio Schwartsman que “a Política Nacional de Drogas do governo vai priorizar programas que busquem a abstinência do usuário, em vez da redução de danos”. Em sua opinião, é um erro. Segundo ele, “há um consenso na psiquiatria de que não há um tratamento único que sirva para todos os pacientes”. E que “usuários cujo grau de dependência é mais baixo podem beneficiar-se de estratégias que tentem reforçar o autocontrole, evitando o agravamento de sua condição”. Em minha opinião, Hélio e o governo estão errados.
O erro começa na referência aos “usuários cujo grau de dependência seja mais baixo”. Na condição de dependente químico que se tratou há 31 anos e tem se mantido à distância dos produtos, aprendi, comigo mesmo e com usuários e dependentes com quem convivi, que as duas categorias não formam uma mesma pessoa. Um usuário pode passar a vida usando sua droga em quantidade razoável para seu organismo —e apenas para este— sem se tornar dependente. Mas, se a dependência se instalar —ou seja, se o organismo passar a exigir a droga para se manter estável—, não haverá mais possibilidade de autocontrole.
Uma frase comum aos dependentes, “Bebo [ou fumo, cheiro, injeto] porque gosto. Quando quiser parar, eu paro”, é quase cínica. Se fosse possível a um dependente decidir quando parar ou reduzir, não haveria dependência. Donde não se trata de “força de vontade”. A mente pode até querer parar ou reduzir, mas o organismo não permite.
O tratamento de uma dependência pode ser feito pela psicologia, pela religião ou pelo que for. Mas só terá alguma chance de dar certo se o dependente interromper o consumo durante o tratamento e aguentar as consequências imediatas dessa interrupção. O que, geralmente, só se consegue com internação.
Bater papo com o terapeuta no consultório e continuar bebendo ou cheirando só fará bem ao terapeuta.
Receba notícias da Folha
Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber
Ativar newsletters