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Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

Caretice em Woodstock

O rapaz e a moça têm hoje 70 anos e continuam juntos. Será que um dia vão pirar?

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Woodstock foi há 50 anos e, há pelo menos 30, fico esperando a enxurrada de reportagens, artigos e análises a respeito que saem a cada dez anos. Fiz isto de novo desta vez. Não que o festival em si me interesse. Quando ele aconteceu, li no Jornal do Brasil um vago telegrama falando de um festival de rock acontecido dias antes e que reunira milhares de jovens numa grota chamada Woodstock. Veja bem, na época, as agências de notícias levaram alguns dias para se tocar —significando que Woodstock cresceu em importância à medida que se distanciou do fato.

Um ano depois, saíram o LP triplo e o documentário de Michael Wadleigh, que estabeleceram uma versão oficial sobre o festival —versão que só agora começa a ser contestada, conspurcando a romântica saga de paz, amor, sexo, drogas e rock and roll com relatos de gente atolada em fezes, assédios, estupros e até mortes no cenário. Mas, enfim, nada disso me diz respeito. O que me interessa é o destino do rapaz e da moça abraçados sob o edredom enlameado na capa do LP e no cartaz do filme.

Eles se tornaram o símbolo de Woodstock. De dez em dez anos, no aniversário do festival, a imprensa em peso os entrevista. Chamam-se Bobbi e Nick, têm hoje 70 anos e —incrível— continuam juntos. Bem, isso contraria todo o programa libertário dos jovens de 1969, dos quais eu era um. Nossa geração pregava o sexo livre, grupal, aberto. Nada de relações estáveis e, muito menos, casamento. Era proibido proibir. Woodstock resumia tudo isso.

Pois, se era assim, Woodstock fracassou. Bobbi e Nick se casaram, tiveram dois filhos e, quem sabe, netos. São aposentados, talvez membros do Rotary e aposto que tomam gemada antes de dormir. A cada dez anos, leio sobre Woodstock torcendo para que eles tenham finalmente pirado e se separado. Mas em vão. 

Não é que ficaram caretas. Sempre foram. Mais ou menos como eu.

Bobbi e Nick, que se tornaram o símbolo de Woodstock e continuam juntos - Reprodução

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