Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.
Garrincha Flamengo
Por baixo da camisa do Botafogo, o coração do ídolo batia pelas cores impensáveis
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Questionada outro dia pelo meu amigo André Rizek sobre qual era o time do coração de Garrincha, Elza Soares não hesitou: “Flamengo”. Os jornais deram, mas não era novidade. Na internet, há outras declarações iguais de Elza. E, em meu livro “Estrela Solitária — Um Brasileiro Chamado Garrincha”, de 1995, já consta essa revelação. Ela me foi passada em Pau Grande (RJ) por Rosa, irmã mais mais velha do jogador. O menino Garrincha tinha uma camisa do Flamengo e podia levar dias sem tirá-la.
O interesse da informação é o fato de a glória de Garrincha em clubes ter se dado exclusivamente no Botafogo, de 1953 a 1965. Ele foi o segundo jogador que mais o defendeu, seu terceiro maior artilheiro e responsável por inúmeras conquistas. Embora estrelado também por Nilton Santos e Didi, o Botafogo, muitas vezes, foi Garrincha. Donde, para os botafoguenses, ele só podia ser Botafogo. Como tolerar a ideia de que, por baixo da camisa alvinegra, o coração de Garrincha batia pelas cores mais impensáveis —as do Flamengo?
Mas não há razão para mágoa. Pelo Botafogo, Garrincha enfrentou o Flamengo 38 vezes. Ganhou 15 e empatou 11, boa média, e marcou 12 gols, alguns decisivos —dois dos quais no 3 a 0 de 1962 sobre o rival, que deu o bicampeonato carioca ao Botafogo. E há outro motivo para minimizar a suposta torcida de seu ídolo pelo odiado Flamengo: Garrincha não ligava para futebol.
Nunca ia aos estádios, exceto para jogar, e não seguia jogos pelo rádio ou TV. Quando o Brasil perdeu a Copa de 50 para o Uruguai e ele viu as pessoas chorando, comentou: “Que bobagem, chorar por causa de futebol”. O futebol, para ele, era a bola em seus pés —nem pensar em dar combate a um adversário. A graça estava no drible, no gol e, em terceiro plano, na vitória. A rigor, não era um torcedor.
Ah, sim, aos 36 anos, em 1969, Garrincha foi jogar no Flamengo. Mas, ali, não era mais Garrincha.
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