Siga a folha

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

Descrição de chapéu Congresso Nacional

Eles são os homens de bem

Seguidores sinceros de Bolsonaro se confundem com os Brazão, Queiroz, Lessa e outros elementos

Assinantes podem enviar 7 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Quem conhece o teatro, romances e contos de Nelson Rodrigues sabe que seus personagens são uma galeria de adúlteros, incestuosos, assediadores, assassinos, suicidas e outros graves transgressores das normas de convívio. Por causa disso, Nelson foi censurado, teve peças e livros proibidos, sofreu ameaças físicas e foi chamado de tarado e pornográfico. Quem são esses personagens? Marginais, presidiários, prostitutas, pobres, destituídos, aqueles de quem a sociedade espera esses "desvios"?

Não. Os tarados de Nelson são advogados, juízes, médicos, políticos, padres, pais de família, até mães de família. Todos "homens de bem" —inatacáveis, detentores do monopólio das virtudes, aqueles sobre quem não resta a menor dúvida. Daí Nelson botar na boca de alguém em seu romance "Asfalto Selvagem": "O homem de bem é um cadáver mal-informado. Não sabe que já morreu".

Nelson pode ter se enganado. O "homem de bem" ainda é uma realidade. Ele tem um "nome a zelar": venceu na vida, é casado, fiel, não tem filhos gays, é sócio de clubes, paga o que deve em dia, vai à Disney com a família, é patriota, religioso e fã de cantores sertanejos.

Talvez não por acaso, seu reduto seja a extrema direita. Certifiquei-me disso outro dia num livro de 1933 do jornalista António Ferro, de loas ao então ditador luso Salazar. É dedicado "aos portugueses de boa-fé e boa vontade" —o que os tornava cúmplices das perseguições, prisões e tortura a que Salazar submetia os opositores.

"Homens de bem", ou que assim se consideram, são também os seguidores sinceros de Bolsonaro. Isso os aproxima de "homens de bem" como os irmãos Brazão, Fabrício Queiroz, Ronnie Lessa, Roberto Jefferson, Daniel Silveira, Allan dos Santos, Eduardo Pazuello, Braga Netto, Augusto Heleno, padre Kelmon. Uns, acusados de tentativa de golpe; outros, de fraude e corrupção; e ainda outros, de assassinato, mesmo.

Padre Kelmon em 2022 - Mauro Pimentel/AFP

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas