Siga a folha

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

Descrição de chapéu Brasília

Caminho da roça

Não é só a corrupção. Suas Excelências provincianizaram a política brasileira em benefício próprio

Assinantes podem enviar 7 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Romário, 58 anos, ex-jogador, senador (PL-RJ) e presidente do América, amado e tradicional clube hoje na segunda divisão do futebol carioca, anunciou sua volta aos gramados. Por que não? Uma vez craque, sempre craque, e os pés não esquecem o que aprenderam. De bola parada, muitos até mais velhos botam a bola na gaveta e fazem lançamentos de 40 metros, como no seu auge —posso garantir porque já cansei de ver. Mais difícil para Romário talvez seja conciliar as atividades de político, cartola e jogador.

Ou não. Segundo ele mesmo disse, um senador da República só precisa ir ao Congresso em Brasília dois dias e meio por semana —terça e quarta-feira e metade de quinta. Nos restantes quatro dias e meio, digo eu, pode ficar em seu burgo, cuidando da reeleição ou, como Romário, presidindo um clube e até brincando de jogar. Já a República lhe paga os sete dias de salário, dele e de seus 33 assessores, as idas e vindas de avião e ainda lhe oferece um apê em Brasília. Nem os clubes de futebol são tão generosos.

Romário não tem culpa. É só beneficiário de uma tradição criada em 1960, quando Juscelino, ao levar a capital para Brasília, teve de subornar os políticos para trabalharem lá. Ninguém queria ir. No Rio, moravam com a família em apartamento próprio (que tinham de comprar). Suas mulheres iam ao teatro, à Colombo, algumas até trabalhavam. Os filhos estudavam em bons colégios, iam à praia, tocavam bossa nova. E Suas Excelências saíam à rua, podiam ser cobradas na fila do cinema ou no jornaleiro da esquina.

Hoje, os políticos nem dão satisfações. Escondem-se nas suas roças, onde fazem a política local e para onde drenam o dinheiro público. O problema não é só a corrupção, mas a tremenda provincianização da política brasileira.

Ao mesmo tempo, não sei se seria diferente se passassem a semana em Brasília. Continuam na roça onde quer que estejam.

Romário em treino do América - Ricardo Moraes -25.abr.24/Reuters

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas