Líder do governo defende mudanças na gestão Lula: 'Se estivesse bem, teria 80% de aceitação'

José Guimarães prega reconciliação entre Lira e Padilha e admite disputar presidência do PT

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Brasília

Líder do governo na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT-CE) defendeu uma renovação na Esplanada dos Ministérios e uma chacoalhada geral no PT para o enfrentamento do bolsonarismo nas ruas e nas redes sociais.

"Toda renovação é bem-vinda. Evidentemente que o presidente é quem encaminha. Mas às vezes nós temos que evitar em qualquer governo a acomodação, a sensação de que está tudo bem. Se estivesse tudo bem, o Lula estava com seus 80% de aceitação. Não está tudo bem", afirmou Guimarães ao ser questionado sobre a necessidade de uma reforma ministerial.

As declarações do congressista foram dadas horas antes de o governo sofrer uma série de derrotas na votação dos vetos presidenciais do Congresso Nacional nesta terça-feira (28).

O deputado federal José Guimarães (PT-CE), líder do governo Lula na Câmara dos Deputados - Bruno Spada-10.abr.2023/Câmara dos Deputados

Guimarães disse ainda ser necessário repensar a estratégia de comunicação, o que não significa necessariamente a substituição do titular da Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência).

Segundo ele, o terceiro governo Lula "entregou demais". Mas nem sempre o fruto desse trabalho chega à população, inclusive porque alguns programas sociais retomados pelo Palácio do Planalto já estão incorporados como políticas de Estado, não como novas conquistas.

O deputado federal rechaçou o termo desgaste como referência à queda na avaliação do governo.

"Não é desgaste. É a manutenção da mesma toada que nós tivemos na eleição. Nós temos que avançar. Tem tempo ainda para reformular muitas coisas. Eu acho que dá tempo de a gente reverter isso para Lula chegar a um índice de aceitação grande em 2026", acrescentou.

Segundo Guimarães, os oposicionistas construíram um Estado à parte, fundado em fake news, e o país está dividido. Por isso, o governo não pode se dar ao luxo de errar. "O país é 50% nós e 50% com eles."

Ele defendeu, ainda, uma reconciliação do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), com o ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT), citando haver benefícios na retomada da relação para a Casa e para o país.

O líder do governo Lula disse que o PT precisa voltar às suas origens e admitiu a possibilidade de concorrer à presidência da legenda no próximo ano, apesar de, nos bastidores, o mandatário já ter indicado preferência pelo prefeito de Araraquara (interior de São Paulo), Edinho Silva, para a sucessão de Gleisi Hoffmann.

Alegou que Lula sempre será uma pessoa chave dentro do partido, mas que é necessária a realização de um debate amplo dentro do PT e que não ouviu manifestação do presidente em favor de Edinho. Ele defendeu um nome do Nordeste para a direção nacional da sigla.

"Por que não o Nordeste pela primeira vez depois do [José Eduardo] Dutra, por que não ter um nordestino na presidência do PT? Por que não eu? Por que não Humberto [Costa]? Por que não outros nomes do Nordeste? O Nordeste continua o sustentáculo maior do PT", ressaltou o congressista.

Guimarães afirmou ainda que Gleisi tem que comandar sua sucessão.

"Temos que fortalecer a Gleisi até para reconhecer o legado dela. Se tivesse dado errado, ela pagaria um preço altíssimo [...] O que a gente não pode é desmoralizar, porque essa mulher foi muito corajosa", reiterou o deputado, lembrando já ter defendido o nome dela para o ministério de Lula.

Argumentando ter havido uma excessiva institucionalização da agremiação, o líder do governo defendeu "uma chacoalhada geral dentro do PT".

"O conjunto do PT se institucionalizou em demasia. Claro que minha função aqui é institucional, mas nem todo PT tem a mesma função. Então, precisa que a gente dê conta dessa nova disputa que está em curso no Brasil, nas redes e nas ruas. Não pode ser uma coisa dentro do governo, na defesa do governo", disse.

"Se não, no próximo ano, vamos eleger a nova direção sem ideias, sem compromisso social e sem perspectiva de manutenção do PT. O PT como um todo, nós como dirigentes, precisamos entender que aconteceu com o país. O Brasil não é o Brasil de 2002 nem o Congresso é aquele. O Brasil é outro país e o governo tem que ser outro, porque o Brasil mudou", completou.

Para Guimarães, o partido "não é mais o PT de São Bernardo", sendo necessária uma renovação. E, diz ele, a nova direção deve pensar um projeto de país não só para ganhar a eleição. "Mas é pensar um projeto de país em que o partido se enraíze, se estruture. A direita está dando uma lição muito grande para nós. Ela se organiza em outro instrumento, que é a tal rede social."

Sobre seu dia a dia, descreve: "Eu tenho que conversar com o governo. Nem sempre todos do governo conversam afinados com o presidente da Câmara. E aí eu tenho que me virar em dez. O fato é que nós aprovamos tudo que o governo quis. Com uma ou outra pequena mudança. Mas as questões centrais do governo nós aprovamos aqui na Câmara".

Raio X - José Guimarães, 67

Advogado, é líder do governo Lula na Câmara dos Deputados e vice-presidente do PT. Deputado federal desde 2007, foi líder do governo Dilma, além de líder da oposição no governo Jair Bolsonaro e líder da minoria no governo Michel Temer. Foi duas vezes deputado estadual pelo Ceará

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