Siga a folha

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

Descrição de chapéu surfe

Arte, não mais esporte

Os atletas hoje realizam façanhas impensáveis e têm câmeras e recursos para lhes fazer justiça

Assinantes podem enviar 7 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Circula por todos os veículos e redes sociais a foto do francês Jerome Brouillet, da Agência France-Presse, que mostra o surfista brasileiro Gabriel Medina voando nas ondas do Taiti e fazendo com o dedo o número 1, como se adivinhasse a nota 9,9 que os juízes lhe dariam, a maior até hoje na história do surfe olímpico. O que é mais impressionante? A destreza do fotógrafo ao calcular o micromomento do clique, o enquadramento mais que perfeito, a mão firme ao disparar, a exata simetria entre o homem e a prancha? Ou a proeza do surfista, nunca antes registrada —e, se nunca registrada, como comparar possíveis proezas semelhantes no passado?

Não pode haver comparação. Quando o surfe começou, as pranchas eram de bico quadrado, tinham dois metros de comprimento, pesavam 30 quilos e pareciam portas de igreja ou pedaços de um tapume de obra —o que de fato eram. A primeira vez em que alguém foi visto de pé sobre uma delas foi algo de sobrenatural. Hoje, as pranchas são outras, a preparação é outra, os surfistas são outros, até as ondas são outras.

E assim em todos os esportes. Seus praticantes parecem sobre-humanos em relação aos de ontem mesmo. O contraste mais à mão está no futebol: graças ao aparato médico dos clubes, a capacidade dos atletas e o equipamento mais leve e racional, os jogadores correm hoje quilômetros impensáveis —nos anos 1930, havia até profissionais tuberculosos.

Pense agora nos números do basquete, na força dos saques no tênis e no vôlei, na distância e na altura dos saltos, na resistência dos maratonistas, na velocidade das braçadas e nas coreografias da ginástica, dos saltos ornamentais, do skate. As Olimpíadas já não são apenas esporte, mas arte, em dezenas de categorias —e, finalmente, com câmeras e recursos para lhes fazer justiça.

O que me pergunto é qual erro custou a Gabriel Medina o 0,1 que lhe tirou o 10.

Gabriel Medina comemora vitória que lhe garantiu vaga para as quartas de final dos Jogos Olímpicos Paris-2024 - AFP

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas