Bióloga e neurocientista da Universidade Vanderbilt (EUA).
Mulher teve o cérebro operado enquanto tocava violino
Em alguns procedimentos, é preciso manter o paciente acordado
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
Dagmar Turner é no momento uma violinista muito famosa graças a sua recente performance num palco inusitado: um centro cirúrgico, apropriadamente chamado pelos ingleses de teatro de operações.
Com a cabeça afixada a uma moldura rígida, que impedia qualquer tipo de movimento, e seu cérebro exposto e sendo cutucado ao vivo e a cores por seu cirurgião, Dagmar, de olhos fechados, tocou escalas e melodias ao violino enquanto a equipe médica fazia comentários encorajadores. A cena, verdadeiro espetáculo da ciência e tecnologia, é fácil de encontrar no seu navegador favorito, cortesia de Dagmar e do hospital universitário da King’s College, em Londres, onde a cirurgia aconteceu.
Cirurgias já eram espetaculosas nos longos séculos pré-anestesia, mas por outras razões: o paciente acordado, contido por amarras e exposto a um anfiteatro cheio de ajudantes, médicos e observadores. Não é à toa que a anestesia geral é considerada uma das maravilhas da medicina, geralmente no topo da lista, junto com antibióticos.
Também não espanta que hoje em dia, dada a opção entre anestesia local ou geral, a maior parte dos pacientes escolha anestesia geral. É uma opção confortável e bastante segura, embora ainda não inócua; sob anestesia local, o risco de sequelas ou danos inadvertidos é muito menor, e a recuperação mais rápida.
Partos no mundo moderno são feitos assim, e boa parte das cirurgias abdominais também poderia acontecer sob anestesia local, havendo acordo entre paciente e equipe médica. No caso de algumas cirurgias do cérebro, contudo, anestesia local é rotina necessária: quando se trata do órgão que faz e sonha, lembra e canta, ouve ou imagina, de que outra forma o cirurgião poderia escolher quais estruturas sacrificar ou evitar durante a remoção de um tumor?
O truque é que o cérebro em si não precisa de anestesia, nem geral nem local. Todas as sensações, agradáveis, dolorosas ou neutras, dependem de sinais levados ao cérebro por nervos, que cobrem o corpo todo —menos o próprio cérebro. Durante a neurocirurgia, cortar pele, osso e membranas, todos inervados, requer anestesia; mas, uma vez o cérebro exposto, é possível acordar o paciente para que ele ajude na própria operação.
A cena cirúrgica de Dagmar é bem diferente das primeiras cirurgias graças a gerações de cientistas, médicos e engenheiros. Com tudo o que já se aprendeu e inventou, o cérebro de Dagmar já tinha sido mapeado por ressonância funcional e operado em simuladores várias vezes antes da cirurgia, minimizando o tempo que Dagmar passou acordada. Quem quer abrir mão disso?
Veja vídeo da cirurgia:
Receba notícias da Folha
Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber
Ativar newsletters