Siga a folha

Historiadora e jornalista especializada em América Latina, foi correspondente da Folha em Londres e em Buenos Aires, onde vive.

Descrição de chapéu Venezuela

Eleição na Assembleia coloca em risco liderança de Guaidó

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

A poucas semanas de completar um ano como líder da Assembleia Nacional da Venezuela, Juan Guaidó encontra-se em sua fase mais difícil. Embora exista um acordo entre os parlamentares, de maioria opositora, de que ele seria reeleito como presidente da casa no pleito do próximo dia 5 de janeiro, hoje sua liderança está em risco.

Para relembrar, a eleição de Guaidó foi fruto de uma estratégia de opositores presos ou exilados. Seu objetivo era colocar adiante do único órgão considerado legítimo um político jovem, carismático, que também servisse para conquistar a simpatia internacional. 

Os primeiros meses de seu mandato foram um sucesso. Guaidó recuperou o entusiasmo dos venezuelanos e lotou as ruas de Caracas e das principais cidades do país em numerosos atos marcados pela euforia dos que desejam o fim da ditadura.

Fora das fronteiras, conseguiu o reconhecimento de mais de 50 países, obteve apoios financeiros volumosos e deu publicidade para a crise humanitária que vive a Venezuela.

Por outro lado, os contratempos e erros acumularam-se. Duas ofensivas fracassaram: a falida entrega da ajuda internacional organizada para ocorrer de modo cinematográfico em Cúcuta, em fevereiro, e a tentativa de estimular uma rebelião das Forças Armadas, em abril.

Outros elementos foram se juntando a isso: um desgaste de popularidade por conta de objetivos não alcançados e, recentemente, as acusações de corrupção de parlamentares ligados a ele.

Sempre é bom lembrar a dificuldade de lutar contra uma ditadura. O poder tem armas de fogo, capacidade de repressão, dinheiro lícito e ilícito, e a possibilidade de torturar e encerrar em masmorras seus inimigos. Qualquer cobrança de resultados de Guaidó precisa levar isso em conta e concluir que, apesar das dificuldades, ele conseguiu muito em um ano. Mas não o suficiente.

Agora, encontra-se com a possibilidade de não ser reeleito. Menos por uma falta de lealdade de seus seguidores dentro da Assembleia, mas pelo fato de a ditadura estar atuando para impedir que isso aconteça. Maduro mandou seus congressistas, minoritários, voltarem ao parlamento, e armarem uma bancada mais expressiva. Além disso, vem oferecendo até US$ 1 milhão para quem mudar de voto para que Guaidó perca o pleito.

Tudo aponta para uma necessidade urgente de mudar de estratégia. Como? Primeiro, reconhecendo que apenas chamar manifestações não resolve nada, pois os venezuelanos se cansaram de marchar em vão.

Depois, que as tentativas de diálogo fracassaram pela debilidade dos mediadores e pelas cisões da oposição. Uma intervenção militar está descartada por qualquer aliado com bom senso. Portanto, a saída tem de ser política, mas usando novos instrumentos, envolvendo outros atores da sociedade e deixando de lado antigas diferenças.

Tantas convulsões na América Latina fazem com que uma das tarefas urgentes de Guaidó seja a de trazer de novo o foco internacional para a crise humanitária. Igualmente urgente é mobilizar a sociedade e quem quer que possa ajudar para atender os que passam fome e os que morrem em hospitais sem recursos. 
Estes, sim, é que não podem esperar nem mais um minuto.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas