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Da alegria exuberante à depressão

Redfield é autoridade em bipolaridade e paciente acometida pela condição

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A psiquiatra Kay Redfield, autoridade norte-americana em transtorno bipolar (ou doença maníaco-depressiva, como costumava ser mais conhecida na década de 1990, quando este livro foi escrito), é ela própria uma paciente psiquiátrica acometida pela bipolaridade. "Tornei-me por necessidade e por inclinação uma estudiosa das alternâncias do humor. É o meio que conheço para compreender, na verdade para aceitar, a doença que tenho."

"Uma mente inquieta" é o relato autobiográfico detalhado e com passagens belíssimas desta médica que precisou, em nome dos afetos e da própria vida, tomar lítio e abdicar de uma porcentagem considerável de sua mente veloz.

Desde a infância de Kay, sua mãe precisou lidar, munida de "empatia e inteligência", com a genética da bipolaridade espalhada dentro de casa.

Kay pôde notar, aos 16 anos, que sua euforia deixava exaustas todas as pessoas ao redor. Em sua primeira crise, ela narra que "corria de um lado para o outro como uma doninha enlouquecida, cheia de planos e entusiasmos borbulhantes, mergulhada nos esportes, passando a noite inteira acordada, noite após noite, saindo com amigos, lendo tudo que lhe caísse nas mãos, enchendo cadernos com poemas e fragmentos de peças".

Na faculdade, sua lembrança mais forte é a da luta entre a felicidade exuberante e "as garras da depressão". "Em vez de comprar uma sinfonia de Beethoven, eu comprava nove. Em vez de me matricular em cinco matérias, eu me matriculava em sete."

Sem a medicação, que na dose prescrita lhe causava intoxicação, portanto, incômodos e vexatórios tremores e vômitos —esse tipo de fármaco era pouco estudado na época, isso mudou por completo hoje—, Kay podia atingir picos maníacos e destruir relacionamentos, queimar o filme em eventos e estourar o cartão de crédito.

Em uma recepção para os novos membros do corpo docente da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, a lembrança de Kay era de ter sido "fabulosa, esfuziante, sedutora e segura". Mas seu futuro psiquiatra, que estava no mesmo local, teve outra percepção: "ele disse que eu estava vestida de uma forma provocante, totalmente diferente do estilo conservador no qual ele me havia visto no ano anterior".

Foi logo depois disso que teve seu primeiro surto, se tornou uma potencial suicida e aceitou, a contragosto e desrespeitando a dosagem necessária, usar a medicação. Com frequência se perguntava quais sentimentos eram reais e quais dos seus "eus" eram de fato ela.

Por se tratar da vida real de uma mulher que topou enfrentar todos os seus monstros e as camadas mais profundas do inconsciente, este é um relato muitas vezes doloroso sobre desespero e perdas. Ao mesmo tempo, e de forma brilhante, com imensa capacidade para falar de amor, humor, conhecimento e disciplina. "Quando eu me queixo de estar menos animada, com menos energia, menos alegre, as pessoas dizem que agora estou como o resto do mundo".

Uma mente inquieta

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Kay Redfield Jamison; editora Martins Fontes; tradução Waldéa Barcellos; 270 páginas

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