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A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

Preço do milho não deve reagir

Cenário inibe alta, a não ser que algo inesperado ocorra, afirmam analistas

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Os produtores de milho que acreditam em uma retomada dos preços do cereal podem se decepcionar. Os desafios passados pela cultura nos anos de pandemia e de estrangulamento do mercado, e que elevaram os preços para patamares recordes, ficaram para trás.

Avaliações das perspectivas da safra 2023/24, feitas tanto pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) e pela consultoria Safras & Mercado, indicam uma acomodação dos preços.

Uma mudança ocorrerá apenas se algo de diferente ocorrer no setor, o que não está no radar até agora. É hora, segundo os analistas, de os produtores buscarem mecanismos de proteção, em vista dessa instabilidade.

Na avaliação dos técnicos da Conab, após a forte aceleração dos preços do milho durante a pandemia, provocada por crises climáticas e dificuldades na oferta, eles passam por forte queda.

Campo de milho no norte do Paraná - Mauro Zafalon/Folhapress

Os valores atuais e os projetados para os próximos meses, no entanto, não possuem uma rentabilidade atrativa para os produtores. Esses analistas veem preços neutros ainda no primeiro semestre de 2024 e um pouco mais otimistas no segundo.

Paulo Molinari, analista da Safras & Mercado, acredita que, diante dos fatos atuais, é uma ilusão esperar alta dos preços, a menos que algo inesperado aconteça.

Conab e Molinari avaliam o cenário atual bem diferente daquele que elevou os preços recentemente. Safras recordes, recomposição de estoques, reativação do comércio mundial, apesar da guerra da Ucrânia e da Rússia, e até o clima deixaram de pressionar os preços.

Além desses efeitos relacionados à produção e à distribuição do cereal, outros, como a situação econômica em vários países, os juros elevados e a perda de força da moeda da China, o yuan, também inibem uma reação dos preços do cereal.

O Brasil, que terá uma safra recorde de 139 milhões de toneladas em 2022/23, voltará a ter um volume próximo de 137 milhões em 2023/24 nos cálculos da Safras. O El Niño, provocado pelo aquecimento de parte das águas do Pacífico, em geral traz safra cheia para a América do Sul.

A Argentina, castigada fortemente neste ano pela seca, voltará ao patamar de produção de 56 milhões de toneladas em 2023/24, elevando as exportações para 35 milhões. Nesta safra, foram apenas 23 milhões.

O Brasil, que terá exportações próximas de 55 milhões de toneladas neste ano, segundo a Safras, voltará a exportar volume próximo de 40 milhões em 2024, prevê a Conab.

Os dois grandes produtores mundiais, Estados Unidos e China, estão com a safra em andamento. Os norte-americanos influenciam os preços internacionais, uma vez que deverão repetir o patamar recorde de 484 milhões de toneladas. Isso permite ao país exportar mais e elevar os estoques finais, o que dá maior tranquilidade ao consumo e segura preços.

Os estoques finais dos norte-americanos deverão subir para 56,4 milhões de toneladas na safra 2023/24. Segundo Molinari, na última vez em que os Estados Unidos chegaram a um volume assim, os preços em Chicago ficaram em US$ 3,50 por bushel (25,4 kg).

O analista acredita que o preço do milho, após ter atingido US$ 8 por bushel no pico da crise, poderá recuar para até US$ 4,30 quando a colheita dos Estados Unidos atingir 50%. Nesta quarta-feira (20), o contrato de dezembro fechou em US$ 4,82 na Bolsa de Chicago.

Já a China, país que vem aumentando a participação no mercado internacional de compras, tem uma desaceleração de sua moeda, o que diminui o poder de compra e força o país a negociar preços mais baixos.

Os chineses, que vão produzir 277 milhões de toneladas, deverão importar 23 milhões. Até agora, os olhos dos chineses estavam voltados para o Brasil, mas o avanço da safra norte-americana dá novas opções para eles.

A Europa, também castigada por condições climáticas adversas nas recentes safras, volta a produzir 59 milhões de toneladas em 2023/24, um volume ainda abaixo da média dos últimos cinco anos, mas superior aos 52 milhões de 2022/23. O continente volta a repor estoques.

A Ucrânia, que mexeu com os preços do mercado internacional após ser invadida pela Rússia, eleva a produção para 28 milhões de toneladas e exportações para 19,5 milhões. O maior problema dos ucranianos, segundo Molinari, é o escoamento desse grão.

Até o trigo pode atrapalhar uma recuperação dos preços do milho. O El Niño deverá trazer mais chuva para Rio Grande do Sul e Santa Catarina, elevando a oferta de trigo para ração, afirma o analista.

Outro desafio para os produtores do Paraguai, Paraná e Mato Grosso do Sul é optar por guardar milho ou soja, a partir de janeiro, quando se inicia a colheita da oleaginosa em algumas regiões. A aposta recente tem sido por guardar a soja.

Diante de tantos fatos, "só um sonhador acha que o milho possa subir", afirma Molinari.

Segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), a saca de milho esteve em R$ 54,3 nesta quarta-feira, abaixo dos R$ 84,2 de há um ano e bem inferior aos R$ 104 de março de 2022, segundo o indicador Esalq/BM&FBovespa.

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