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Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

Brasil, ainda infeliz e com medo

Pessimismo para de aumentar, mas índices de satisfação estão perto das mínimas

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Faz quatro anos, o Brasil tem medo e é infeliz como nunca, pelo menos no último quarto de século, por aí. 

O Índice de Satisfação com a Vida (ISV), por exemplo, nunca foi tão baixo por tanto tempo desde que o Ibope começou a fazer tal pesquisa para a Confederação Nacional da Indústria, em 1996. O Índice de Medo do Desemprego flutua nos níveis mais altos em 20 anos desde o início de 2015.

O prestígio de Jair Bolsonaro está em patamar neutro (nível equivalente de notas “ótimo” e “péssimo”), mas fraco para um presidente em início do mandato, segundo as pesquisas CNI-Ibope. Supera os desastres de popularidade de Dilma 2 e de Michel Temer, mas equivale ao de Dilma 1 depois do colapso de junho de 2013, ao de Lula 1 no pior do mensalão e ao de fins de FHC, em 2002, desgastado por oito anos de mandato, pela desvalorização do real e pelo apagão.

Medo de ficar desempregado cresce mais entre brasileiros menos escolarizados - Danilo Verpa - 17.nov.2017/Folhapress

O ISV e o Índice de Medo do Desemprego (IMD), também da CNI-Ibope, e outras medidas de satisfação pessoal, política e econômica deram uma melhorada depois da eleição, como costuma ocorrer depois do voto. Em fevereiro, o desânimo voltou a aumentar. Entre os mais pobres, o medo do desemprego e a satisfação com a vida não se moveram das profundezas a que desceram na recessão. Há uma 
notável disparidade de classe.

A confiança empresarial e dos consumidores medida pela FGV parou de piorar em junho, mas vai tão mal quanto no início de 2018. A ansiedade é maior entre micro e pequeno empresários da indústria, segundo pesquisa Datafolha para o sindicato paulista do setor, o Simpi.

Em junho de 2018, 76% desses empresários acreditavam que a “crise ainda é forte, afeta muito os negócios, e não dá para prever quando a economia vai voltar a crescer”.

 Com a eleição, o ânimo melhorou. Os pessimistas eram apenas 32% em fevereiro. Em maio, voltavam a ser espantosos 64%. A expectativa de demissões voltou a crescer. Sacolejo semelhante de 
opinião também ocorreu no mercado financeiro.

É sempre difícil cravar motivos da piora de ânimos, mas houve notícias que costumam abalar esperanças.

Tumulto no noticiário político tende a aumentar o pessimismo econômico; não faltou balbúrdia no Planalto. Alta do preço dos alimentos abala a avaliação do governo e a confiança; houve uma carestia de comida, devida ao tempo ruim. 

A polarização odienta, para o que contribui o governo de extrema direita de Bolsonaro, afasta simpatizantes, para dizer o menos. Enfim, além da promessa de aumento do Bolsa Família, o governo 
nada disse aos mais pobres.

A esperança no recém-eleito sustentou o prestígio de Lula 1 no ano ainda ruim de 2003. 

A reeleição elevou até mesmo o prestígio de Dilma Rousseff a um patamar mais alto que o de Bolsonaro agora em junho. A avaliação da presidente logo sofreu um colapso com o estelionato eleitoral, o que derrubou os ânimos nacionais para os níveis deprimidos que vemos desde então.

É possível que a economia deixe de piorar a partir deste terceiro trimestre. A provável queda dos juros e a reforma da Previdência podem animar o terço mais rico da população, mais pelo efeito “noticiário positivo”. É muito pouco para alimentar esperanças.

A balbúrdia política é imprevisível, pois o governo não se pauta pela razão ou pela política de agregação. Pode mudar, caso não se prenda à permanente campanha eleitoral com o objetivo de manter um terço do eleitorado agitado com factoides extremistas. Não parece provável.

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