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Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

Plano de criação de empregos do governo parece cloroquina

Guedes diz que prefere reduzir impostos sobre a folha das empresas a mais gasto público

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Paulo Guedes tem dito a empresários que prefere reduzir impostos a gastar mais dinheiro público, em particular cortando tributos sobre a folha de pagamentos das empresas: assim seriam criados mais empregos.

Foi o que disse também faz dois meses, no início do pânico da epidemia. É o que diz desde 2019. Etc. É o que se diz desde 2017, aliás, desde Michel Temer.

Se esse é o plano, falta mostrar como, quanto, quando. Assim posto, não faz sentido.

O ministro da Economia parece acreditar que haverá retomada relevante do consumo das famílias e do investimento assim que se der cabo eficaz deste nosso isolamento social tabajara. Esqueça-se, por um momento, da data desse “assim que”, adiado “sine die”. Por investimento, se quer dizer mais gastos em casas e instalações produtivas novos, em obras de infraestrutura, em ampliação da capacidade das empresas.

Tal posição também não é nem jamais foi novidade, no caso de Guedes. Ficou estridente naquele debate de cloroquina econômica que foi a ideia do plano “Pró-Brasil”, faz um mês lançado para o espaço pela Casa Civil, de onde jamais voltou, devendo andar agora pela órbita lunática ou marciana, de onde não tem mandado notícias. Era uma sugestão vaga da intenção nebulosa de fazer gasto público adicional em obras de infraestrutura.

Em qualquer futuro, próximo ou remoto, da reabertura econômica, parte das famílias estará desempregada, endividada ou apavorada. Parte remediada deve tentar recompor suas reservas financeiras ou evitar despesas: quase todos terão medo do futuro ainda incerto por falta de controle efetivo da Covid-19 (por remédios que evitem as mortes ou vacinas que evitem a infecção).

Note-se ainda que, embora Guedes tenha sugerido que pode prorrogar uma versão reduzida do auxílio emergencial, a redução em dois terços desse programa tira de imediato e por baixo 0,3% do PIB, por mês, de poder de consumo das famílias. Uma enormidade.

Parte de alguns setores econômicos estará destruída ou lentamente voltará à atividade (afora no caso de haver logo vacina para todos): restaurantes e bares, serviços pessoais, entretenimento, turismo de lazer e negócios, aviação, combustíveis, eletricidade.

Haverá capacidade ociosa de sobra nas fábricas, não apenas porque a renda terá sido reduzida em nível de depressão. Espaços comerciais vão sobrar. Investimentos em energia serão atrasados: haverá sobra aí também. Quem vai querer certas concessões em transporte, dada a demanda reduzida? Estão querendo na verdade devolver as que levaram.

Com otimismo rosa, talvez resistam investimentos em 5G e saneamento, se a barafunda regulatória for resolvida. É o que parece sobrar daquela expectativa de investimentos maiores que havia no final de 2019, que já se frustrava de modo evidente no início desde 2020.

Como se não bastasse tanta desgraça, Jair Bolsonaro aprofunda a crise política e administrativa que desde sempre foi o seu governo.

Nessa situação, quanto emprego novo será criado para cada real extra de baixa de imposto sobre a folha salarial?

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