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Jornalista e apresentador, autor de “A Fantástica Volta ao Mundo”.

Descrição de chapéu África

'Ele é lembrado como um escritor de talento', respondeu o ChatGPT

Insisti: 'Itamar Vieira Junior morreu mesmo?'

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Para encarar as três horas e tanto de voo até Fortaleza, saindo de São Paulo, decidi ler "Salvar o Fogo", o novo livro do grande Itamar Vieira Junior, que, como me informou o ChatGPT antes de eu sair de casa, faleceu em 15 de março de 2021, de complicações da Covid-19.


Atrasado para chegar ao aeroporto, deixei para me aprofundar nisso depois. Já estava feliz o suficiente de ter quase 200 minutos para mergulhar sem interrupções na obra inédita do autor do fenômeno "Torto Arado".

Foi afivelar o cinto segurança e, antes mesmo da decolagem em Congonhas, eu já estava naquele microcosmos fascinante de Moisés e Luzia, enfurnados em Tapera do Paraguaçu, interior da Bahia.

De vez em quando, me lembrava da ironia de estar lendo um livro cujo escritor, segundo um agregador de IA, já não estava mais entre nós havia anos. Fui salvo dessas tolas divagações pelo talento cativante do "finado" e pousei quase lamentando que o percurso não fosse mais longo para que eu lesse mais.

Chegando ao hotel, logo me conectei para confirmar com o ChatGPT o destino do homem que tinha escrito "Salvar o Fogo". "Ele morreu mesmo?", insisti. E veio a resposta: "Sua morte foi uma grande perda para a comunidade literária do Brasil, e ele é lembrado como um escritor de talento".

A 'prova' de que Itamar Vieira Junior morreu - Reprodução


Itamar Viera Junior, como sabemos, está bem vivo. Vimos isso em todos os sorrisos recentes nas páginas de jornais e revistas por ocasião do lançamento de "Fogo". Não ia insistir nisso com o ChatGPT, mas quis explorar mais sua sapiência.

Perguntei sobre escritores que usaram Fortaleza em suas páginas: José de Alencar, claro; Rachel de Queiroz, citando "O Quinze"; Adolfo Caminha ("O Bom Crioulo") também foi lembrado, bem como Patativa do Assaré.

"Como Itamar Vieira Junior descreveria Fortaleza?", indaguei. "Como um modelo de linguagem de IA, não tenho um estilo pessoal, mas posso oferecer uma frase com elementos da escrita de Itamar".

E veio então: "A cidade de Fortaleza pulsa com vida e cor, uma tapeçaria vibrante tecida com os fios de sua herança cultural diversa e a resiliência de seu povo face a durezas e desigualdades".

Bem longe de uma bela sentença do próprio Itamar: "Luiza se postava junto à janela, fechava os olhos de quando em quando. A cada aragem suspirava, e o peito subia e descia com o vaivém das águas sobre o mangue".

Eu sei. Isso que eu fiz foi uma comparação cruel. Mas precisei apelar assim para completar o pensamento que dividi com vocês semanas atrás, quando resolvi pedir dicas de viagem para o ChatGPT.

Poucas coisas são tão pessoais quanto os registros de um turista. Fora as dicas práticas, o que as pessoas querem saber é o que você sentiu naquele lugar, suas impressões, e aí a IA (ainda) não pode ajudar.

Quais as chances de encontrar Björk no meio da rua em Reykjavik? "Como uma capital pequena, 130 mil habitantes, a possibilidade de encontrá-la é maior do que numa cidade grande. Mesmo assim, esbarrar numa celebridade depende de uma série de fatores imprevisíveis." Hum.

Por que os guias em Tombuctu te recebem dizendo: "Bem-vindo ao fim do mundo"? Ora, "Porque a cidade fica numa parte remota de Mali, a última parada antes da imensidão do deserto do Saara; e talvez para provocar os turistas diante de um lugar importante histórica e culturalmente, que ainda guarda seus mistérios".

Um pouco melhor! Mas, mesmo assim, onde está a paixão? Assim como o estilo inconfundível de Itamar Vieira Junior, ela só existe, por enquanto, nas mentes e nos corações humanos.


Assim, daqui em diante sigo só. ChatGPT, boa viagem.

Zeca Camargo com o novo livro de Itamar Vieira Junior - Arquivo pessoal

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