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Jornalista e apresentador, autor de “A Fantástica Volta ao Mundo”.

Descrição de chapéu Itália

Será que turistas merecem pistola d'água na cara, como em Barcelona?

Maior responsabilidade de resolver conflitos está nas mãos das autoridades

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Sim, eu já falei alto em restaurantes. Já tirei fotos, até selfies, em lugares sagrados. Já fiz parte de multidões em lugares tranquilos. Já paguei mico tentando me comunicar em línguas que desconheço. Sim, já fiz fila para comer o melhor croissant, beber o melhor chocolate, degustar a melhor tapa.

Mas será que eu mereço uma pistola d'água na cara? Só por ser um turista?

Dias atrás, barcelonenses saíram às ruas da sua cidade para protestar, molhando visitantes que estavam em bares e restaurantes da cidade que é uma das mais visitadas na Espanha (25 milhões de turistas em 2023).

Multidão protesta em frente a restaurante turístico em Barcelona - AFP

O motivo era claro: a indignação com a superexploração do turismo em Barcelona. Não é apenas a invasão de pessoas nas ruas, justificavam os cerca de 2.500 "nativos" protestando, mas também as chatas consequências que as multidões de visitantes trazem.

Como o barulho, que é o mais fácil de se detectar. Mas eles também lamentam o aumentos dos preços nas altas temporadas e até a usurpação do próprio cotidiano de uma cidade que eles escolheram para morar.

Entre as várias reportagens que circularam sobre o assunto, pouco foi dito sobre o ponto de vista dos próprios turistas. Por isso, enquanto viajante profissional que, diga-se, mora numa cidade (São Paulo) que está longe de ser invadida por hordas de turistas, decidi fazer um exame de consciência.

Boa parte das cidades que se levantaram contra o turismo de massa pertencem à Europa, um dos destinos mais desejados no mundo. Além de Barcelona, Veneza quer os visitantes pagando para circular nas suas ruas. E Amsterdã planeja medidas para controlar o número de pessoas por lá.

Mas também assisto incomodado a essas "invasões" em outras partes do mundo. Para ficar só no sudeste asiático, que visito com frequência, detecto mais e mais grupos de turistas chineses conferindo lugares fantásticos sem o menor envolvimento com o modo de vida local.

Assim como as turbas que incomodam os europeus, esses "invasores" parecem estar lá apenas para tirar selfies e voltar para casa contando histórias bizarras sobre as diferenças culturais que viram —de longe.

O que me fez pensar que, ainda que hoje eu viaje com mais consciência do que na minha época de mochileiro, será que eu também já não cometi pequenos pecados que ofenderam os moradores por onde passava?

Turistas em Veneza - Shutterstock/via Global Media

Provavelmente sim. E pensando em retrospecto, minhas "liberdades turísticas" não pareciam ter muita consequência. Mas pense em milhares, ou melhor, milhões fazendo as mesmas bobagens que eu fiz!

A soma dessas pequenas transgressões tem tudo para ser insuportável para quem vive no lugar que eu apenas visito. Por isso resolvi escrever sobre isso aqui para dizer: mea culpa.

Repito: hoje sou um viajante diferente daquele garoto que partiu pelo mundo 40 anos atrás. Mas se hoje penso de outra maneira ao chegar a uma cidade turística, novas gerações estão experimentando as mesmas coisas da mesma maneira que eu tempos atrás. Ou, pior, estão apenas viajando sem consciência.

Mas retomando a pergunta: essas pessoas merecem pistolas d'água? Claro que não. Nós, turistas, certamente temos de estar sempre atentos em respeitar por onde passamos. Mas a maior responsabilidade de resolver esse conflito está nas mãos das autoridades de turismo pelo mundo.

Elas devem ouvir esses protestos e imaginar soluções que não anulem essa enorme fonte de receita que é o turismo nem roubem a experiência de quem quer realmente conhecer um lugar incrível.

Ah, e de quebra deixar os residentes desses cartões postais em paz.

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