Zeca Camargo

Jornalista e apresentador, autor de “A Fantástica Volta ao Mundo”.

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Férias radicais, um complemento

Planejo uma ausência da nossa tão suplicante presença nas redes sociais

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Tenho 60 anos e venho de um ano puxado. Antes que você chame esta coluna de um arremedo, digo que é uma homenagem carinhosa ao apelo sincero de Caetano Veloso e que começava mais ou menos assim.

Pouco antes de 2023 fechar, um minipronunciamento seu ofuscou as surradas pautas de fim de ano não só das mídias convencionais como das redes sociais. Em 15 de dezembro, Caetano anunciava que iria sair de férias. E que elas seriam radicais.

Com a elegância de costume, pediu que todos respeitassem seu sossego de verão, delicada e brutalmente anunciando que não aceitaria forma alguma de interação midiática. E falou com meu coração.

Especialmente porque eu também estou saindo de férias. Sim, depois de um período puxado de intensas atividades. Ou, para citar Caetano corretamente, super puxado.

Há muito tempo eu não sentia essa necessidade, de férias. Nos últimos anos, trabalho e lazer se misturaram de maneira quase orgânica, algo que parece ser positivo. Só que não.

Eu precisei justamente de uma rotina para poder celebrar a ausência dela. Explico melhor: nos últimos meses, me envolvi, de maneira apaixonada, num projeto que tem me consumido bastante.

Apresento agora um programa ao vivo na TV, de segunda a sexta-feira. E isso exige bastante de mim. Aí, para tirar essas férias, nas últimas semanas fazia dois programas por dia, um gravado e o outro ao vivo.

A intensidade desse trabalho me fez desejar como nunca um tempo livre, que estou prestes a desfrutar. Sim, a partir de hoje embarco para um destino para o qual não vou há tempos e que desejo revisitar como um adolescente revisitando uma paixão.

Quero, de fato, me desligar de tudo. Não tenho, nem de longe, a demanda de Caetano em seu desabafo, intermináveis solicitações que vão de atividades públicas a emissão de opiniões. Mas a necessidade de uma pausa falou diretamente comigo.

Eu já estava planejando essas férias e quando li seu recado no Instagram, desejei que eu o tivesse escrito. Talvez jamais com a elegância de quem pede distância daqueles que "mais me tocariam com seu chamado". Mas com a mesma honestidade de quem quer dar um tempo de tudo. Que é exatamente o que vou fazer nos próximos dias.

Não vou deixar de escrever neste espaço daqui a duas semanas, você tem minha palavra. Mas pelos próximos 15 dias planejo uma ausência da nossa tão suplicante presença nas redes sociais.

Tendo resolvido o que é logisticamente mais complicado, a pausa do trabalho, percebi que o hiato na comunicação virtual só depende mesmo de mim. Por isso quero deixar por escrito minha intenção.

Lá estarei no próprio Instagram, mas como canta Balu nas aventuras de Mogli, comparecerei apenas com o necessário. No Whatsapp, já avisei do silêncio aos amigos próximos, e os nem tanto, acredito, talvez não notem minha falta.

As conversas por telefone ficarão definitivamente em quarentena. O contato mais próximo que meus afetos podem esperar é um cartão postal.

Quero levar a ideia de férias radicais ainda além, não por mero capricho, mas para me lembrar como é viver uma viagem sem ter que compartilhar cada minuto dela.

Ao chegar ao meu destino, quero o compromisso apenas com minha saudade daquele lugar e minha curiosidade espontânea. Que prazer será tirar uma foto não porque daria um bom selfie, mas simplesmente para guardar um momento.

Estarei pedindo demais a mim mesmo? Talvez. Mas acho que será um exercício nostálgico para este viajante. E vou me esforçar para sair pelo mundo assim. Só.

Porque me é necessário. A Caetano, mais que nunca, meu muito obrigado.

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