Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Vinicius Torres Freire
Descrição de chapéu copom juros Selic

Algumas boas notícias na economia, para variar

Há mais ânimo no mercado de capitais e de crédito; comércio, serviços e emprego avançam

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Jamais as empresas haviam tomado tanto dinheiro no mercado de capitais. Pelo menos no mercado de renda fixa, o volume é recorde, em termos reais, nos últimos doze meses, até junho. Trata-se aqui de crédito por meio da venda de debêntures e outros títulos de dívida. O dinheiro é usado em capital de giro, investimento na expansão do negócio, melhora do endividamento etc.

É um dos sinais de ânimo na economia, apesar do azar da virada financeira nos EUA, da bagunça sobre metas fiscais e da catástrofe no Rio do Grande do Sul. Pelo menos no que diz respeito ao andamento geral da economia, o efeito do desastre horrível que se abateu sobre os gaúchos parece ter sido menor do que o esperado.

Bolsa de Valores de São Paulo - Amanda Perobelli - 6.jul.2023/Reuters

Os números do mercado de capitais estão no balanço divulgado nesta quarta-feira (17) pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais). Esse mercado se recuperou do desastre do início do ano passado, causado pela revelação dos crimes na Americanas, além de outros problemas em empresas, e por causa da taxa de juros ainda mais alta do que a de agora.

No que diz respeito a novas ofertas de vendas de novas ações ("IPOs"), o mercado continua em ponto morto.

Ainda assim e apesar do incessante tumulto brasileiro, parece que empresas e potenciais credores estão um pouco mais propensos a correr risco, melhora que é notável no mercado de renda fixa desde março. Também no crédito bancário se percebe recuperação.

O total de concessões (novos empréstimos) cresceu 4,1% nos últimos 12 meses, até maio (em comparação com igual período do ano passado, em termos reais). No caso de empresas (pessoas jurídicas) a alta foi menor, de 1,9% em doze meses. Mas o total de concessões anuais estava no vermelho até fevereiro.

O total de crédito em relação ao PIB estimado mensalmente pelo Banco Central estava em 53,7% em maio. Quer dizer, mais ou menos na mesma dos últimos meses, é verdade, mas maior do que em maio do ano passado.

Quanto à atividade econômica, o faturamento de comércio e serviços cresceu bem mais do que o esperado em maio. Pode bem ser que o PIB cresça ao menos 2,5% neste 2024. A julgar pelos dados disponíveis até agora, é possível que os bons números do emprego e dos salários sustentem o consumo, apoiado um tanto mais pela melhora do crédito bancário.

Dadas as limitações crônicas do crescimento brasileiro, as perspectivas são razoáveis —no curto prazo.

Um risco difícil de estimar é o de tumulto internacional, como aqueles que podem surgir nos voláteis Estados Unidos, com sua biruta nos juros e na política —há mais chance de que Donald Trump venha aí.
Há uma incógnita a respeito de quanto vai durar o bom momento do mercado de trabalho (que já vem de longe e ainda parece mal compreendido pelos economistas, que de resto não o previram).

Há uma suspeita forte: parte desse ritmo melhor do PIB dependeu do aumento forte do gasto público, que está chegando a um limite, de um modo ou de outro (ou a despesa é contida, pelo menos dentro dos tetos metas do arcabouço fiscal, ou as taxas de juros permanecerão altas).

Há uma certeza: a continuação de um ambiente mais animado depende de uma queda considerável das taxas de juros, o que ainda não está no horizonte, e também do preço do dólar —nesse nível em que anda, vai pressionar a inflação.

O alívio nas condições financeiras, por sua vez, depende das medidas concretas que o governo federal vai divulgar a partir da semana que vem: como vai limitar o estouro do gasto deste ano e como será o Orçamento de 2025. Tapar o sol com a peneira de medidas fiscais fracas vai jogar areia no motor ainda pequeno da economia dita real.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.