Adolescente apenas fantasiou ataque à escola em Suzano, afirma advogado de suspeito
Jovem de 17 anos internado na Fundação Casa é investigado como o 3º envolvido no massacre
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O adolescente apreendido sob suspeita de ser o terceiro envolvido no massacre na escola Raul Brasil, em Suzano, está servindo de bode expiatório para uma sede da polícia em dar respostas ao crime, afirma Marcelo Feller, o advogado criminal que defende o jovem de 17 anos.
Feller rebateu nesta segunda-feira (25) algumas das provas obtidas pelos investigadores e que foram usadas para considerar o adolescente como autor intelectual do ataque, ao lado de Guilherme Taucci Monteiro, 17, um dos assassinos.
Para a Justiça, mensagens trocadas entre o jovem e Taucci mostraram indícios concretos da participação dele na organização do massacre. Feller, no entanto, diz que as conversas mostram o oposto.
O jovem envia logo depois do ataque, no dia 13 de março, às 10h04: “Caralho, porra, Taucci, teve um tiroteio dentro da escola. Mano, dois adolescentes e eles se mataram.” Sem resposta por 40 minutos, ele segue: “Taucci?”
“Um dos atiradores tinha um machado igual ao seu”, ainda envia o jovem, antes de se dar conta de quem era o autor do crime. “Seu filho da puta, eu te odeio”, foi a última.
“Ele demonstra uma angústia tremenda quando se dá conta do que seu melhor amigo foi capaz de fazer. Ele entrou num estado catártico, começou a tremer e a chorar quando entendeu o que tinha acontecido”, afirma Feller.
Em outra mensagem, para um grupo de amigos, o jovem apreendido diz: “Isso me lembrou a minha estratégia pra fazer um massacre naquela escola. Não sei como eu conseguia pensar nisso, sério.” Com outro colega, falou: “mano, o atirador pode ser o Taucci”.
A polícia diz não saber ainda o que teria provocado a saída dele da efetivação do massacre.
Os dois, segundo o advogado, fantasiaram sobre um ataque do tipo, mas em 2015, quando eles tinham entre 13 e 14 anos. Taucci e o outro jovem eram melhores amigos, estudavam na mesma classe, mas brigaram nesta época e não se falaram mais até o fim do ano passado, segundo o defensor.
“Quando o Taucci tira isso do campo das ideias e passa a executar, ele não sabe. Sim, ele fantasiou sobre entrar na escola e matar pessoas, mas quatro anos antes e fantasiar é absolutamente diferente de colocar em prática”, afirma Feller.
Outras provas que corroboram a investigação policial foram apreendidas na casa do jovem. São desenhos de pessoas mortas, mensagens criptografadas e uma bota militar muito semelhantes às achadas na casa dos dois atiradores.
Feller diz que o coturno foi um presente do tio do garoto, dado em fevereiro deste ano, seis meses após a data da compra de botas por Taucci, em novembro de 2018.
Segundo o defensor, foi o próprio adolescente quem disse à polícia que esteve num estande de tiros junto à Taucci cinco dias antes do crime. Um vídeo mostra os dois no local, onde ficaram por mais de uma hora treinando arco e flechas e disparos de armas airsoft. “Ele nunca tentou esconder, mas não sabia que ia ser acusado, já que não tinha feito nada”, diz Feller.
Sobre a suspeita de que ele seria o terceiro jovem visto num estacionamento onde os atiradores guardavam o carro usado no ataque, Feller diz que a polícia não comparou as impressões digitais encontradas no veículo com as do jovem.
O dono do estabelecimento, o empresário Eder Alves, 36, não reconheceu a fisionomia do jovem apreendido como sendo a foto do garoto que viu no local. Feller pediu uma nova análise das digitais.
Ele também solicitou que o jovem seja ouvido por uma psiquiatra, que conseguiria dar um parecer à defesa sobre a sua saúde mental. A Justiça indeferiu o pedido e ele será ouvido por psicóloga da unidade da Fundação Casa, onde está em internado provisoriamente por 45 dias desde a decisão da juíza Erica Marcelina Cruz, da Vara da Infância e da Juventude, no dia 19 de março.
Se não houver sentença dentro desses 45 dias, o adolescente será liberado.
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