Mortes: Mãe destemida, virou símbolo contra ditadura
Elzita buscou respostas de regime após desaparecimento de filho
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
A vida da pernambucana Elzita Santa Cruz se transformou no Carnaval de 1974, quando um dos filhos saiu e nunca mais voltou.
O estudante de direito e funcionário público Fernando Augusto Santa Cruz, com 26 anos, desapareceu no Rio de Janeiro, a caminho de um encontro com militantes da Ação Popular Marxista-Leninista.
Ela, então, iniciou uma peregrinação por prisões, quartéis e órgãos de repressão, em busca de resposta.
"É justo, é humano, é cristão que um órgão de segurança encarcere, depois de sequestrar, um jovem que trabalhava e estudava, sem que à sua família seja dada qualquer informação sobre o seu paradeiro e as acusações que lhe são imputadas? Que direi ao meu neto quando jovem for e quando me indagar que fim levou o seu pai, se ele não tiver a felicidade de ver seu regresso?", escreveu, em carta ao marechal Juarez Távora, em 1974.
Filho de Fernando e neto de Elzita, o advogado Felipe Santa Cruz, hoje presidente do conselho federal da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), afirma que a avó fazia o confronto às autoridades com destemor.
"Mas ela era doce e poética, representava a coragem das mães e o direito da mãe ter o corpo do próprio filho."
Elzita, que teve ainda dois outros filhos perseguidos pela repressão, virou um símbolo da luta contra a Ditadura. Após a redemocratização, continuou buscando por uma resposta para a pergunta que repetiu por 45 anos: "Onde está meu filho?". Documentos públicos revelariam que ele foi preso pelas forças da repressão, mas não seu paradeiro.
O caso de Fernando foi um dos analisados pela Comissão da Verdade e Elzita venceu o Prêmio Nacional de Direitos Humanos em 2010. Ela, que vivia em Olinda (PE), morreu aos 105 anos na terça-feira (25), sem as respostas que queria. Deixa sete filhos, 28 netos e 24 bisnetos.
Receba notícias da Folha
Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber
Ativar newsletters