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Coronavírus silencia percussão e projetos do seu Maloka

Ex-técnico de basquete, Ronaldo Belotti, 61, misturava esporte e samba em atividades para a comunidade

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Augusto Diniz
São Paulo

Nos últimos anos, Ronaldo Bellotti frequentava um desses pequenos redutos de samba de verdade na Bela Vista, na capital paulista. Na Toca da Capivara, seu Maloka ou Magrão, como o chamavam, fazia o surdo e o tamborim falarem mais alto. Essa percussão solene está agora em silêncio.

Bellotti foi internado no dia 25 de março no Instituto do Coração (Incor) e depois transferido para o Hospital das Clínicas, em São Paulo (SP), onde morreu na segunda-feira, 6, em decorrência do novo coronavírus.

O músico passou 10 dias na UTI. Segundo relato enviado a amigos por áudio antes da internação, sentiu persistente febre e dor de cabeça.

Aos 61 anos, ele deixa uma filha, Elis Guanaes Bellotti, e a atual companheira Guta Amaral.

O músico Bellotti no programa de Rolando Boldrin, na TV Cultura, em 2014 - Pierre Yves Refalo/TV Cultura

Magrão dava aula de basquete no Esporte Clube Sírio quando resolveu tentar a sorte como músico em Salvador (BA), atraído pela sonoridade da batucada. Não deu certo e chegou a se mudar para a favela.

De volta à sua terra natal, passou a tocar no circuito de bares, como os da Vila Madalena. O músico frequentava nas tardes de sábado, com seu inseparável tamborim, a roda de samba do Bar do Bilú, no Butantã, antigo encontro de sambistas, em meados dos anos 1990.

Com o fim do bar, houve uma dispersão geral do movimento do samba paulistano. Magrão seguiu seu caminho de cantor e batuqueiro, tocando em vários lugares na noite. Desenvolveu ainda projetos como educador social.

Um dos locais onde ele tinha presença constante foi o tradicional choro da praça Benedito Calixto, em Pinheiros. Com o nome artístico de seu Maloka, cantava e impunha habilidade e força no instrumento.

Ex-jogador e técnico de basquete, especializado em educação comunitária, tornou-se coordenador de esporte em centros da prefeitura de 2000 a 2007 e também da Associação Craques de Sempre, projeto voltado à inclusão social.

Sua metodologia de trabalho reunia a prática esportiva e a música. Misturava o basquete com a dança, propondo desenvolvimento físico e mental a crianças e adolescentes.

Bellotti tinha como objetivo fazer o basquete ir além da atividade física, ser fonte de conhecimento da cultura popular com o uso de ritmos diversos durante uma partida, como toque da bola no chão e o drible. O esporte, no fundo, demanda coreografia, dizia.

O músico seu Maloka fez do surdo a sua síntese e inspiração. Buscava a profundidade rítmica nas raízes africanas.

Viveu tocando nos bares, percorrendo a noite. Era um típico artista, de vida muito simples, mas de bastante ideal. Personagem da cidade, Bellotti não tinha preocupação com o amanhã, mas não perdia de vista a atenção ao momento com suas ações comunitárias.

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