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Descrição de chapéu Obituário Vinicius Spaggiari Silva (1982 - 2021)

Mortes: Usou Nietzsche para conquistar o amor de sua vida

Vinicius Spaggiari Silva morreu de câncer, aos 38 anos

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São Paulo

Levava algum tempo para perceber que a gagueira de Vinicius Spaggiari Silva, 38, conhecido do colégio à vida adulta pelo apelido de Dead, era algo definitivo.

À primeira vista, parecia ser um trejeito. Talvez porque o problema nunca o tenha inibido de fazer amigos, discursos políticos e transmitir um afeto ressonante —em voz alta, grave, que tomava os espaços.

Desde adolescente sonhava em cursar direito e ter um escritório que levasse seu sobrenome, diz o amigo Bruno Henrique Di Fiore, 38, juiz do Tribunal de Justiça de São Paulo, que o acompanhou da infância até a época da faculdade.

Um ano antes de ingressar na São Francisco, a Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo), circulou entre grupos distintos no cursinho Anglo da rua Tamandaré, na Liberdade.

Vinicius Spaggiari Silva, conhecido por Dead - Arquivo pessoal

A capacidade de transitar o acompanhou pela vida. Ouvia a banda americana de metal pesado Brujeria, e também o maestro brasileiro Tom Jobim. Estava feliz com o punk do The Clash e o jazz de Mile Davis.

Nos corredores da “SanFran”, dialogava com alunos dos mais diferentes vieses, distribuindo opiniões fortes, por vezes polêmicas e irônicas, mas ditas com carisma, diz Rafael Gandara D’Amico, 39, defensor público.

Era um leitor voraz. Quem chegasse cedo à faculdade poderia vê-lo sentado nas arcadas, revirando páginas dos livros que depois enfiava nos bolsos laterais da calça cargo. Desenhava, usando seus traços para preencher bordas de cadernos e, mais tarde, páginas inteiras, lembra Rafael, seu companheiro na gestão do Centro Acadêmico XI de Agosto, em 2004.

A política era central em sua vida: participou do movimento estudantil, escreveu panfletos e manifestos --mas também havia textos sobre arte, arquitetura e filosofia.

Usou Nietzsche para chamar a atenção de quem seria a companheira dos últimos 11 anos, Thais Helena Smilgys, 34, doutora em filosofia do direito pela USP — a quem Dead conheceu no porão da São Francisco, onde também fez doutorado.

Em 2011, fundou o escritório Spaggiari, Kawashima & Lós, realizando o sonho de infância. Para os sócios, era elemento orientador, “uma enciclopédia Barsa ambulante”, diz Marcell Yoshiharu Kawashima, 37.

Foi um guia também para os amigos, com quem partilhou de sanduíches de berinjela a charutos importados, quando o momento era de abundância.

Era um ouvido atento e disposto, sem nunca comunicar seus problemas. Isso incluiu o último obstáculo, um câncer no pâncreas. Deixa a mulher, os pais, as avós, dois irmãos, e três gatos, que tratava por filhos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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