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Influenciadora do ES é alvo de ataques racistas no dia de seu aniversário

Após ser adicionada num grupo de Whatsapp, Carol Inácio recebeu também ofensas gordofóbicas

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Rio de Janeiro

O último domingo (8) prometia ser de alegria para a influenciadora Carol Inácio, de Colatina (ES). Naquele dia, ela fazia 26 anos e, por isso, recebeu café na cama, um bolo surpresa e mensagens carinhosas de parentes e amigos. Às 21h50, porém, já não havia clima para festa.

A jovem foi incluída em um grupo de Whatsapp no qual sofreu ataques racistas e gordofóbicos. “Chamavam a gente de negras porcas e diziam que não comeriam uma gorda”, conta ela.

No dia 22 de julho, a jovem já havia sido adicionada a outro grupo em que foi alvo de ofensas semelhantes. “Quando abri meu Whatsapp, eu murchei. Entrei em contato com um advogado para pedir orientação, mas fiquei desesperada e só chorava por ser a segunda vez que isso acontecia.” Nos dois casos, ela registrou um boletim de ocorrência.

Carol Inácio sofreu ataques racistas no domingo (8), quando comemorava o aniversário em Colatina (ES) - @heybarreto no Instagram

A influenciadora não sabe quem a colocou nos grupos, mas acredita que encontraram seu contato por meio de uma ferramenta que hospeda em uma única página links de sites e redes sociais.

Carol disse considerar que os ataques são motivados por suas posições políticas. Ela é contrária ao governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e integra o Movimento de Mulheres Negras de Colatina.

“O discurso de ódio que o presidente propaga inspira as pessoas e elas acabam reproduzindo isso, só que de modo pior, com ataques e humilhações.”

Em 2017, durante palestra no Rio, Bolsonaro fez declarações preconceituosas contra as populações quilombolas. “Fui num quilombola [o termo correto é quilombo] em Eldorado Paulista. Olha, o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada. Eu acho que nem para procriador ele serve mais", afirmou.

Ser alvo de ataques racistas tem gerado prejuízos emocionais à influenciadora. Ela diz que sofria com um quadro leve de ansiedade, mas que o problema foi agravado pelos episódios. A jovem se sente insegura ao andar na rua e precisou aumentar as sessões com a psicóloga.

“Eu sinto uma diferença gigante no meu comportamento [depois do ataque]. Até minha família percebeu um pouco de estresse”, diz.

Doutora em psicologia social pela USP (Universidade de São Paulo), Clélia Prestes afirma que lidar com o racismo de fato provoca quadros de estresse​ e receios de realizar tarefas cotidianas.

Superar esse problema, diz ela, não é uma tarefa apenas de pessoas negras. Além de enfrentá-lo pela via psíquica, a especialista diz que é preciso combatê-lo pela via política.

“Se a gente identifica o que é preciso que as pessoas negras façam, é preciso também identificar o que pessoas brancas que cometem discriminação devem fazer”, diz ela, acrescentando ser preciso promover mudanças de mentalidade para que o racismo perca força.

“Esse problema não é da pessoa negra e o tratamento não deve ser pensado como algo específico para pessoas negras."

Apesar dos ataques, Carol diz que não vai parar. Ela enxerga que ser influenciadora negra é uma forma de levar diversidade às redes sociais, um meio, segundo ela, ainda pouco diverso. “Não é sobre dar voz, porque a gente já tem uma voz. Mas é preciso que as pessoas acreditem no nosso trabalho para essa voz ecoar.”

E o que ela diria a quem tenta silenciá-la? “Que eles desistam, porque o povo preto é unido, forte e tem muito axé. Eles não vão nos calar mais."

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