Hospitais relatam 26 mortos em operação na Vila Cruzeiro, mas polícia descarta 3
Autoridades dizem que três óbitos ocorreram em confronto entre traficantes no morro do Juramento, no Rio
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Mais um paciente morreu na madrugada desta quinta-feira (26) no Hospital Getúlio Vargas, na Penha, zona norte do Rio, após a operação conjunta da Polícia Militar e da Polícia Rodoviária Federal na Vila Cruzeiro, zona norte do Rio. Com isso, subiu para 24 o número de pessoas que perderam a vida apenas na unidade.
Além delas, duas pessoas morreram em outras localidades. Gabrielle Ferreira da Cunha, 41, foi baleada em casa na Chatuba, comunidade vizinha à Vila Cruzeiro, e não foi levada ao Getúlio Vargas. A cabeleireira foi enterrada nesta quarta-feira (25) no Cemitério São Francisco Xavier, no Rio.
A outra vítima é um menor de idade que chegou já morto na terça (24) na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Complexo do Alemão, segundo a Secretaria Municipal de Saúde.
Com isso, o número de vítimas atribuído à operação pelas informações de hospitais chegaria a 26. Oficialmente, porém, a Polícia Civil considera 23 mortes relacionadas à ação.
A corporação diz que três das mortes informadas pelas unidades de saúde não ocorreram na operação da Vila Cruzeiro, mas em meio a um confronto entre traficantes no morro do Juramento, a pouco mais de 5 km do local onde houve a operação da Polícia Militar e da Polícia Rodoviária Federal.
De acordo com a Polícia Militar, a ação de terça-feira visava prender em flagrante mais de 50 traficantes de vários estados que sairiam em comboio à favela da Rocinha, na zona sul da cidade. O plano, porém, foi frustrado quando uma das equipes à paisana foi descoberta e atacada na entrada da comunidade, por volta das 4h.
A corporação então colocou em prática uma "operação emergencial", seguida de várias horas de confrontos. A troca de tiros acabou subindo pela comunidade, até chegar a uma área de mata que liga a Vila Cruzeiro ao Complexo do Alemão, onde a maioria foi baleada.
À Folha, moradores relataram violações cometidas por policiais militares, como invasão de casas. No imóvel de uma moradora, a reportagem encontrou diversas perfurações por bala de fogo, inclusive em uma geladeira.
Em frente ao eletrodoméstico, ainda era possível encontrar o fragmento de uma bala na tarde desta quarta-feira (25), o que pode indicar que a perícia não esteve no local.
Em nota, a Polícia Civil diz que o trabalho dos peritos estava sendo feito até o momento em que um policial civil foi ferido no nariz por estilhaços de bala durante um ataque de criminosos. "Além disso, a maioria dos feridos foi encaminhada a unidades de saúde e, consequentemente, os locais onde foram atingidos na comunidade desfeitos pelos moradores."
Folha procurou a Polícia Militar para que a corporação comentasse as denúncias feitas por moradores, mas não recebeu resposta ainda.
Durante entrevista coletiva após a incursão, a PM culpou o STF pela migração de criminosos ao estado. "A gente começou a reparar essa movimentação, essa tendência deles de migração para o RJ, a partir da decisão do STF", declarou o secretário da corporação, coronel Luiz Henrique Marinho Pires.
"Isso vem acentuando nos últimos meses. Esse esconderijo deles nas nossas comunidades é fruto basicamente dessa decisão do STF. É o que a gente entende, a gente está estudando isso, mas provavelmente deve ser fruto dessa decisão do STF", continuou ele.
A operação virou alvo de investigação nos Ministérios Públicos federal e do estado do Rio de Janeiro. O objetivo é apurar eventuais violações de direitos durante a ação na comunidade da zona norte carioca.
Já o ministro Edson Fachin, relator no STF da ação que restringiu as operações policiais no Rio de Janeiro a casos excepcionais enquanto durasse a pandemia, afirmou em nota nesta quarta que viu com "muita preocupação" a ação na Vila Cruzeiro (RJ).
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