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Descrição de chapéu Obituário Nilson Garrido (1958 - 2022)

Mortes: No ringue da vida, ajudou a nocautear o preconceito

Ex-pugilista Nilson Garrido transformou a vida de pessoas esquecidas pela sociedade

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São Paulo

A paixão pelo boxe e pelo ser humano levou o ex-pugilista Nilson Garrido a preparar pessoas esquecidas pela sociedade a darem um nocaute no preconceito e na marginalização, em academias montadas por ele debaixo de viadutos de São Paulo.

Seus alunos eram ex-detentos, viciados em drogas, moradores de rua, imigrantes e quem mais quisesse chegar. Ele não lhes cobrava nada pelas aulas.

Um dos primeiros ringues, porém, foi num galpão de madeira na Vila Ré. Em 2004, ele foi parar debaixo do viaduto pela primeira vez, na Bela Vista, onde passou seus "anos dourados" como treinador. Foi ali que seus alunos começaram a participar de campeonatos.

O treinador de boxe Nilson Garrido sob o viaduto Alcântara Machado, na Mooca, em 2016 - Rubens Cavallari/Folhapress

Em 2009, foi a vez do Glicério, onde ele ficou por dois anos. Em paralelo, ele se estabeleceu em viaduto na Mooca, onde passou o resto de sua vida. Ali era sua casa e seu trabalho. Arrecadava alimentos para ajudar a quem precisasse.

"Na infância ele passou fome e na vida se dedicou àqueles que a sociedade menospreza. Ele os preparou para a vida, os resgatava do lixo e os transformava", afirma a analista e filha Tassya Garrido, 33.

Nascido em Olinda (PE), Garrido era paulistano desde criança. Sua família se mudou para São Paulo quando ele tinha 3 anos. O pai, ele não conheceu. A mãe morreu em acidente de carro na praça da Sé.

Para se virar, ele trabalhou com entulho, como bombeiro civil, teve quitanda e virou técnico de máquinas e geladeiras. "Ele não parava", diz Tassya.

Leitor voraz, mantinha biblioteca na Mooca. Em meio a livros, ringue e aparelhos de ginástica, o filho dele, Fábio Garrido, virou boxeador profissional, atuando como meio-pesado e conquistando campeonatos nacionais.

"Meu pai foi meu mestre, me treina desde os 4 anos. Ele transformou tantas vidas, a minha inclusive. Vou manter o projeto dele vivo", diz Fábio.

A academia de Garrido vivia de doações. Mas a ajuda minguou na pandemia e ele pensou em vender a tocha que carregou nas Olimpíadas de 2016. "Não deixei. Aquele era o maior troféu que ele ganhou", diz a filha.

Garrido morreu em 26 de junho, aos 64 anos, de parada cardiorrespiratória após uma cirurgia no intestino. Ele foi enterrado com o primeiro presente de aniversário que ganhou da filha, em maio, um par de sapatos.

Tassya doou as roupas do pai no dia seguinte, mas um sapato velho de treino insistiu em ficar. "Ele segue conosco na caminhada."

Garrido deixa dois filhos, quatro netos, seis irmãos e uma legião de filhos adotivos do boxe.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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