Mortes: Carisma de Mãe Zeli ia além de seu terreiro na zona norte de São Paulo
Ao longo de anos, filas se formaram por atendimento da mãe de santo
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Desde pequena, quando se mudou com a família de São Bernardo do Campo, no ABC, para São Paulo, Roseli Ferreira Campos de Oliveira era uma católica devota, daquelas de cantar nas celebrações e ensinar catequese.
A descoberta da mediunidade, porém, a levou ao candomblé e isso não mudou apenas a sua vida, mas a crença de muita gente.
Ao longo de anos, Mãe Zeli atendeu os que iam ao terreiro Ilè Oju Ire Alaketu Asé Odé Oyá, mantido com o marido, Francisco Manoel de Oliveira, o Pai Fran, na Brasilândia, bairro da zona norte de São Paulo.
O futuro marido, aliás, ela viu pela primeira vez em um terreiro. Quando voltou para casa, contou que havia conhecido um caboclo muito bonito, com a certeza de que havia encontrado o companheiro e a razão de sua vida.
No candomblé se tornaram referência. Juntos aprenderam yorubá, a língua dos orixás. Mãe Zeli, inclusive, distribuía apostilas para ensinar os "filhos da casa".
Nos atendimentos, que chegavam a ter cem pessoas na fila até nova distribuição de senhas, a mãe de santo, com a Baiana Rosa, que recebia em sua mediunidade, ensinava receitas de garrafadas com remédios caseiros e fazia cirurgias espirituais.
"Vinham pais até do litoral em busca de ajuda para crianças que não estavam bem", afirma a filha Mabyla Campos de Oliveira, 31. "Ela tinha um dom inexplicável. Muita gente a procurava para jogo de búzios, de cartas ou limpeza espiritual. Para ser cuidado por ela no candomblé."
O casal teve outros dois filhos, Victor Campos de Oliveira, 29, e Sidnei dos Campos Rosa, 49, adotivo.
Na região da Brasilândia, as crianças esperavam todo ano os doces e refrigerantes que Mãe Zeli distribuía no dia de Cosme e Damião.
No aniversário de São Paulo de 2020, participou do tradicional Bolo do Bexiga, que foi virtual naquele ano por causa da pandemia, jogando búzios em um vídeo em que parabenizou a cidade.
Solidariedade é um dos principais legados do casal. Até hoje, a família distribui legumes e verduras repassados por uma ONG a comunidades pobres.
Francisco ensinou Roseli a dançar samba-rock. E a se encantar pelo Carnaval, como ele. O babalorixá era apaixonado pela Rosas de Ouro, tradicional escola da zona norte paulistana.
Roseli ensinou Francisco sobre a essência da cumplicidade. Vítima da doença de burguer, provocada pelos males do cigarro, durante muito tempo ele teve os cuidados da mulher ao seu lado. A morte veio em 2020.
Mãe Zeli perdeu sua referência e, conta a filha, esperava para reencontrar o marido, que fazia aniversário na mesma data que ela, em 1º de março.
No último dia 21, Roseli Ferreira Campos de Oliveira sofreu um infarto e morreu aos 59 anos. Deixou os três filhos e quatro netos, além da herança espiritual. Os irmãos Sidnei e Mabyla deverão suceder os pais quando o luto passar.
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