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Descrição de chapéu Obituário Wilson Guilherme (1953 - 2023)

Mortes: Mestre das palavras, não perdia a piada nem amigos

Wilson Guilherme, sociólogo, professor e jornalista, era admirado por sua sagacidade

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São Paulo

Aos amigos e familiares, Wilson Guilherme tinha na ponta da língua uma frase para cada situação. Dizia, e repetia, que preferia perder um amigo a perder a piada.

Mas até aqui não se tem notícia da perda de um amigo nem da amizade com prefeitos da cidade de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo. Wilson falava que o político, "mesmo sozinho, estava mal acompanhado". Boêmio, dizia que bebia para tornar as pessoas mais inteligentes.

Wilson Guilherme (1953 - 2023) - Arquivo familiar

Já a prefeitura, sentenciava ele, era a inimiga da pressa. Sociólogo formado pela USP (Universidade de São Paulo) e jornalista pela Faculdade Cásper Líbero, destilou humor ácido e pitadas de sabedoria, além de doses de generosidades sobretudo com os mais novos, até o dia 28 de agosto.

Naquela manhã de segunda-feira, logo após se levantar da cama, sofreu um infarto fulminante e morreu aos 69 anos. Guilherme deixou Teresa, com quem estava desde 1979, e o filho Murilo, 38.

"Meu pai era um mestre das palavras, dono de uma inteligência ímpar", diz Murilo Guilherme, publicitário.

O pai, além de editar a Folha de Rio Preto, lecionou jornalismo e abriu as portas da Redação para uma grande massa de estagiários. Allexandre Silva foi um dos contemplados pelo estágio no momento em que estava prestes a abandonar o curso por falta de grana.

Ao bater à porta do editor-chefe, Silva estava suado e com o currículo na mão. Wilson ficou impressionado com a disposição do jovem, que percorreu quase 10 km sob sol escaldante.

"Estava em vias de passar fome. Quando ele me viu, falou: não sei nem se o texto é bom, mas quem atravessa a cidade merece uma chance", conta Silva.

Desde cedo, teve que buscar a superação. Aos 8, enquanto levava comida para o pai que trabalhava no pasto, foi arremessado em uma grande explosão, que matou duas pessoas. O menino ficou internado e precisou de enxertos na barriga.

Aos 13, enquanto trabalhava como entregador de uma lavanderia de roupas, sofreu um acidente de bicicleta ao pegar rabeira no caminhão e teve as duas pernas amputadas.

"Ficou internado por vários meses. Quando recebeu alta, os jornais locais e as emissoras de rádio fizeram campanha para arrecadar cadeira de rodas", conta Teresa. Depois, conseguiu pernas mecânicas.

Além de editor-chefe e professor, Guilherme trabalhou na TV Globo e foi secretário de Comunicação, assessor da Câmara Municipal em São José do Rio Preto e da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo).

"Ele não entrava num barco para pescar nem colocava o carro numa balsa sem a minha presença. Contava que eu pudesse salvá-lo em tudo. E, por ironia, eu saí por meia hora e o encontrei sem vida", afirma Teresa, emocionada.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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