Mortes: Teve fé inabalável e se realizou como professora de dança
Teresa Cristina Moraes de Souza conquistou alunos com dedicação a bailinhos e bom humor
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Teresa Cristina sonhava em ser professora de matemática, mas gostava da independência que tinha com o trabalho de vendedora em um shopping na zona norte do Rio de Janeiro.
Quando sua família, que passou por vários bairros da cidade, se mudou para Santa Cruz, na zona oeste, ela resolveu ficar na casa de uma tia na Tijuca, na zona norte e mais perto do trabalho. Com o tempo, no entanto, voltou a morar com pais e irmãos, sem largar do emprego e da praia, uma paixão da carioca, nascida em 1961.
"Santa Cruz é longe das praias da zona sul, mas ela pegava um frescão e ia sozinha, passava o dia inteiro", diz a filha, Camila Cristina de Carvalho, 33. Frescão é um apelido carioca para ônibus com ar-condicionado e poltronas mais confortáveis do que os veículos comuns.
Outra paixão de Teresa era o samba, e no shopping apareceu mais uma: ela começou a namorar um vendedor de outra loja, e engravidou. Em 1990, quando a filha nasceu, o namoro já tinha acabado. "Foi difícil a aceitação, inclusive com meu avô. Mas depois virei xodó", diz Camila.
Teresa deixou as lojas e foi cursar contabilidade, enquanto dividia a criação de Camila com os pais, Renato e Maria Helena de Souza.
Formada, conseguiu um estágio no Banco do Brasil. O carisma e o bom humor conquistaram os colegas, e ela foi contratada como telefonista para uma agência dentro da Casa da Moeda, em Santa Cruz. Ficou no cargo por 17 anos, até a função ser extinta.
Em 2006, o avô de Camila morreu. "Ficamos nós três, mas logo minha avó ficou com a saúde debilitada."
Foi pouco antes de perder a mãe, Maria Helena, em 2011, que Teresa encontrou a segunda maior paixão da vida, atrás apenas da filha: a dança de salão.
"Era aluna numa academia no bairro, e logo virou monitora. Quando o professor saiu, ela assumiu as turmas. Direto, sem certificado", afirma Camila.
O negócio era sério. Havia competições entre os bailinhos organizados pelos professores de dança em Santa Cruz. "Ela alugava salão, contratava DJ e vendia ingressos. Nunca deu lucro. Se ganhasse algo, não passava de R$ 100."
A dedicação conquistou uma comunidade inteira. Durante as restrições mais severas da pandemia de Covid-19, contou com o apoio de alunos que seguiram pagando as mensalidades.
Teresa continuou a dar aulas mesmo sofrendo de artrite reumatoide, enfrentada com diferentes medicações, bom humor e uma fé inabalável. Sempre auxiliada pela filha, descobriu, após investigar sintomas de fraqueza e perda de peso, um câncer agressivo no pâncreas. Ela morreu em 27 de fevereiro, aos 62 anos.
No velório, foi homenageada pelos alunos de dança. Embora Teresa não estivesse mais fisicamente com eles, disseram, continuaria a guiá-los. Deixa a filha, Camila, e Dobby, o gato.
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