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Descrição de chapéu Obituário Jorge Vicente Lopes da Silva (1963 - 2024)

Mortes: Retribuiu a educação pública com trabalho inovador na ciência

Além de mentor e cientista, Jorge Vicente arranjou tempo para ser faixa preta de kung fu

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São Paulo

Hoje comum e com aplicações na medicina e em diferentes ramos da indústria, a impressão 3D precisou de um ponto de partida no Brasil. Isso ocorreu há três décadas, em 1997, com a criação de um setor em um centro federal de pesquisa em Campinas, no interior de São Paulo.

À frente do projeto estava Jorge Vicente Lopes da Silva, cuja marca de dedicação já seria comprovada pela extensa produção de artigos e livros acadêmicos. Mas seu legado também ficou evidente nos vários agradecimentos de pupilos e instituições de pesquisa.

Sua motivação, no entanto, vinha de uma dívida. "Ele sempre estudou em escola pública. Era muito agradecido ao povo e ao Estado brasileiro por ter recebido essa educação e se sentia em débito", diz a mulher, Ana Clélia Ferreira, 63.

Jorge vicente Lopes da Silva (1963 - 2024) - CTI Renato Archer

Natural de Muqui, no interior do Espírito Santo, Jorge cursou o ensino técnico na capital do estado, Vitória, onde também fez a faculdade de engenharia elétrica na Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo). Já o mestrado e o doutorado foram realizados na Unicamp, em Campinas.

De jeito simples e bem-humorado, Jorge fez muitos amigos. "A casa dele sempre estava de portas abertas", diz Felipe Müller, 58, professor titular da Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul.

Colegas da pós-graduação, eles mantiveram o contato depois do doutorado, já que Müller se casou com uma campineira e visitava a cidade regularmente. Já Jorge se fixou em Campinas ao entrar para o CTI (Centro de Tecnologia da Informação) Renato Archer. "Ele comprou um terreno e a gente ajudou a montar a casa, até a plantar árvore. Tenho uma de 30 anos plantada lá."

Entre as aplicações de tecnologia tridimensional liderada por Jorge estão a modelagem de placas para cirurgias que recompõem partes perdidas de crânio e um software que cria modelos tridimensionais a partir de imagens de tomografia e ultrassom.

"Muito disso foi feito em software livre, distribuído para quem quisesse e usado até hoje em um trabalho no CTI com médicos do SUS", diz Müller. O pesquisador foi convocado por Jorge, diretor do centro de 2019 a 2022, para coordenar a área técnica, cargo que ocupa atualmente.

No último ano de sua gestão à frente do centro, Jorge foi diagnosticado com um câncer de próstata avançado e iniciou o tratamento. A doença regrediu, mas voltou a se manifestar nos ossos. "Ele não queria que ficassem esticando a vida dele e buscou cuidados paliativos", diz Ana Clélia.

Afinal, foi uma vida plena: Jorge ainda arranjou tempo para ser faixa preta de kung fu. Ele morreu em 10 de junho, aos 61 anos. Deixa a mulher e o filho, Victor Ferreira da Silva Telles, 31.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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