Descrição de chapéu Obituário Paulo Geraldo Bevilacqua (1926 - 2024)

Mortes: Professor carismático, ensinou latim para padres

Por mais de 70 anos, Paulo Bevilacqua também lecionou português e francês em colégios e faculdades do interior paulista

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São Paulo

O conhecimento de latim do professor Paulo Geraldo Bevilacqua era tanto que certa vez um bispo lhe pediu para ensinar a língua para padres conseguirem conduzir missas, quando isso era regra nas celebrações católicas. Aliás, por muito pouco ele não se tornou um sacerdote.

Primogênito, filho de alfaiate e de mãe extremamente religiosa, morava com a família próximo a uma igreja de Descalvado, no noroeste do estado de São Paulo.

Junto com um de seus cinco irmãos, foi enviado para estudar em um seminário de Pirassununga, a cerca de 40 km dali.

Idoso sorridente, com cabelo branco e pele clara, vestindo uma camisa listrada. Ao fundo, há pessoas em um ambiente festivo, com uma cruz visível. O idoso parece estar em um momento de alegria
O professor Paulo Geraldo Bevilacqua morreu no último dia 21 de julho, aos 98 anos, em Jundiaí (SP) - Arquivo pessoal

O irmão adotou a batina, mas Paulo, não. Em 1950, foi atrás da família, que havia se mudado para Jundiaí, também no interior paulista e cidade próxima a Campinas, onde cursou faculdade de letras neolatinas.

Logo começou a lecionar e só parou nos seus últimos anos de vida. Por mais de sete décadas exerceu longeva carreira de educador em colégios e faculdades.

Foi em uma sala de aula que conheceu Shirley. Depois que se casaram, os dois iniciaram uma peregrinação por cidades e escolas por causa do trabalho do docente.

"Meu pai passou em concurso público e se tornou professor efetivo de latim na rede estadual", conta a filha Márcia Bevilacqua, 63.

Não demorou muito para voltarem e fixarem residência em Jundiaí, onde o educador se tornou conhecido, também por ensinar português e francês em colégios tradicionais da cidade.

Paulo e Shirley tiveram quatro filhos. Era comum a meninada assistir a boas peças de teatro e a concertos de orquestras. A dose foi repetida quando vieram os netos.

"Fomos visitar muitas exposições no Masp", diz Márcia, sobre o museu na capital paulista.

Na sede por conhecimento, visitou grandes museus da Europa —e também igrejas, para não se desprender das suas origens. Não perdia as bienais de Arte e do Livro em São Paulo.

Uma vez por semana, ele só falava francês em casa. Nas suas técnicas inovadoras para atrair a atenção dos alunos, permita que eles jogassem truco na aula, desde que fosse literalmente "à francesa", sem um único berro em português, apenas na língua do país europeu.

Sempre com um aparelho de som ou rádio ligado, gostava de ouvir ópera italiana e Nelson Gonçalves.

Autor de dois livros, já no fim da vida perdeu a visão de um dos olhos, mas usava uma lupa para continuar a ler.

Aos 86 anos cursou pós-graduação e só deixou de lecionar aos 94 porque a pandemia fechou as escolas.

Paulo nunca desapegou de sua fé católica. Com a mulher fez parte de um grupo de casais de Nossa Senhora. No seu último aniversário, em junho passado, cantou "Salve Rainha" em latim com o neto Daniel, que se tornou padre.

Paulo Geraldo Bevilacqua morreu no último dia 21 de julho, aos 98 anos. Deixa a mulher Shirley, os filhos Márcia, Paulo Júnior, Mônica e Renato, 12 netos e 18 bisnetos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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