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Humanos têm 'salto' de envelhecimento aos 44 e 60 anos, sugere estudo

Pesquisadores afirmam que envelhecimento não acontece de forma constante

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Giulia Granchi
BBC News Brasil

Um novo estudo publicado na revista científica Nature Aging sugere que o corpo humano passa por dois picos importantes de mudanças moleculares —algo que os autores relacionam ao envelhecimento— um por volta dos 44 anos, e outro aos 60 anos.

A pesquisa, conduzida por um grupo da Stanford Medicine, universidade na Califórnia, EUA, sugere que muitas de nossas moléculas e microrganismos aumentam ou diminuem drasticamente em quantidade quando alcançamos essas idades.

As suspeitas levantadas, aponta Claudia Kimie Suemoto, professora de geriatria da USP (Universidade de São Paulo) não ligada à pesquisa, podem indicar a necessidade de aumentar o cuidado de áreas específicas da saúde em determinados estágios da vida.

Riscos de doenças como Alzheimer e doenças cardiovasculares aumentam acentuadamente na velhice - Getty Images via BBC

Como o estudo foi feito e quais são suas limitações

Os pesquisadores analisaram milhares de moléculas em pessoas de 25 a 75 anos, seus microbiomas —as bactérias, vírus e fungos que vivem no organismo humano— e colheram evidências que a abundância da maioria das moléculas e microrganismos não muda de forma gradual e cronológica.

"Não estamos apenas mudando gradualmente ao longo do tempo; há mudanças realmente dramáticas", disse Michael Snyder, PhD, professor de genética e autor sênior do estudo, em uma publicação da Universidade Stanford.

Os autores afirmam que essas grandes mudanças provavelmente impactam nossa saúde —o número de moléculas relacionadas a doenças cardiovasculares mostrou mudanças significativas em ambos os períodos, e aquelas relacionadas à função imunológica mudaram em pessoas no início dos 60 anos.

Os pesquisadores monitoraram mudanças relacionadas à idade em mais de 135.000 moléculas e microrganismos diferentes, totalizando quase 250 bilhões de pontos de dados distintos.

Os dados foram obtidos por coletas de sangue e outras amostras biológicas dos participantes a cada poucos meses, para viabilizar a análise de diferentes de moléculas, incluindo RNA, proteínas e metabólitos, assim como mudanças nos microbiomas dos participantes.

"Eles descobriram que milhares de moléculas e microrganismos passam por mudanças em sua abundância, aumentando ou diminuindo —cerca de 81% de todas as moléculas estudadas mostraram flutuações não lineares em quantidade, o que significa que mudaram mais em certas idades do que em outras", diz a publicação no site da universidade.

"Quando buscaram por agrupamentos de moléculas com as maiores mudanças em quantidade, perceberam que essas transformações ocorreram principalmente em dois períodos: na metade dos 40 anos e no início dos 60 anos."

Suemoto, professora da USP, destaca, entre os pontos positivos, que a análise utilizou métodos modernos e avançados, capazes de realizar a leitura de bilhões de dados.

Mas os resultados, embora ofereçam pistas interessantes sobre o envelhecimento humano, não podem ser considerados absolutos.

"A revista na qual o estudo foi publicado é bastante conceituada, o que indica que o conteúdo passou por uma revisão importante. Mas há limitações", explica Suemoto.

A professora cita o número pequeno de participantes (108 pessoas) até 75 anos (embora o envelhecimento continue após essa idade), e sua localização restrita, apenas indivíduos que residiam no estado da Califórnia, nos EUA, como alguma delas.

"Idealmente esse número seria muito maior, e com populações diversas, incluindo outros países. Entendo também que isso tornaria o estudo muito mais caro e demorado."

Outro ponto, analisa Suemoto, é o tempo de acompanhamento dos participantes.

"Os pesquisadores analisaram dados de pessoas de diferentes idades —entre 25 e 75— anos durante um período médio de 1,7 anos [o período máximo que uma pessoa foi acompanhada é de 6,8 anos]. Idealmente, todos os participantes teriam a mesma idade, e seriam acompanhados até os 80 anos ou mais."

As pistas que o estudo oferece

Snyder, professor de genética na Stanford, e seus colegas foram inspirados a investigar a taxa de mudanças moleculares e microbianas pela observação de que o risco de desenvolver muitas doenças associadas à idade não aumenta de forma incremental com os anos.

"Por exemplo, os riscos de doenças como Alzheimer e doenças cardiovasculares aumentam acentuadamente na velhice, em comparação com um aumento gradual do risco para aqueles com menos de 60 anos", diz o texto no site da universidade.

Já o grande agrupamento de mudanças na metade dos 40 anos surpreendeu os cientistas.

A princípio, eles assumiram que a menopausa ou a perimenopausa estava impulsionando grandes mudanças nas mulheres do estudo, distorcendo o grupo inteiro. Mas quando separaram o grupo de estudo por sexo, descobriram que a mudança também estava ocorrendo nos homens na metade dos 40 anos.

"Isso sugere que, enquanto a menopausa ou perimenopausa pode contribuir para as mudanças observadas nas mulheres na metade dos 40 anos, provavelmente há outros fatores, mais significativos, influenciando essas mudanças tanto em homens quanto em mulheres. Identificar e estudar esses fatores deve ser uma prioridade para futuras pesquisas", disse Xiaotao Shen, um dos autores do estudo, ao site da Stanford.

Em pessoas na faixa dos 40 anos, foram observadas mudanças significativas no número de moléculas relacionadas ao metabolismo de álcool, cafeína e lipídios, bem como alterações associadas a doenças cardiovasculares, pele e músculos.

Para os com 60 anos, as mudanças moleculares estavam mais relacionadas ao metabolismo de carboidratos e cafeína, função renal, regulação imunológica, doenças cardiovasculares, assim como pele e músculos.

À Stanford, Snyder sugere que algumas dessas mudanças podem estar ligadas a fatores comportamentais ou de estilo de vida específicos desses grupos etários, e não apenas a fatores biológicos.

Por exemplo, a disfunção no metabolismo do álcool pode ser consequência de um aumento no consumo de álcool por pessoas na casa dos 40 anos, uma fase frequentemente marcada por maior estresse.

A equipe pretende investigar mais a fundo os fatores que impulsionam essas mudanças.

"É importante replicar esses resultados em amostras maiores e de diferentes localidades, mas saber que existem momentos de maior vulnerabilidade pode ajudar na orientação de práticas de vida mais saudáveis, especialmente em torno dessas idades críticas. Mesmo que estilo de vida saudável seja importante em todas as fases da vida, talvez seja ainda mais crucial nesses momentos", avalia a professora de geriatria Claudia Kimie Suemoto.

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