Siga a folha

Descrição de chapéu
Coronavírus

Testagem e educação da população se mostram mais eficazes que lockdown

'Não se pode esperar resultados diferentes agindo sempre da mesma forma' (autor desconhecido)

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Pércio de Souza

Engenheiro e fundador do Instituto Estáter

Expedito Luna

PhD, médico epidemiologista e professor da Faculdade de Medicina da USP

Completamos mais de um ano sob a pandemia e a única certeza que temos é que a situação do país piorou. Ainda atrás, mas seguindo os passos da Europa e EUA no ranking sombrio, ultrapassamos as 300 mil mortes, faltam leitos e os profissionais de saúde estão esgotados. Com a vacinação lenta, a previsão de dias melhores está distante. Crianças fora da escola sofrerão um trauma irreparável e a desigualdade social recrudescerá, com o fechamento de pequenos negócios e a alta do desemprego.

O isolamento social é, em tese, uma maneira óbvia de reduzir a transmissão. Parece claro: se as restrições levam à redução de mobilidade, cai exposição ao vírus e, portanto, o Rt (taxa de contágio no tempo). Mas, na prática, à medida que o tempo passa, mais distante estamos do isolamento eficaz.

Levantamento do Instituto Estáter mostra que, assim como na Europa, o Brasil viu uma queda próxima de 50% na redução da mobilidade a partir do 2º semestre de 2020, comparado com o 1º. Antropólogos, psiquiatras e epidemiologistas que acompanharam o HIV há muito discorrem sobre a dificuldade de mudar o comportamento instintivo do ser humano. A sociabilização é um deles.

Por outro lado, atualmente há um consenso de que o primeiro ataque da transmissão (FAR) está nas pequenas confraternizações em lugares fechados. Tais infectados transmitem para familiares, caracterizando o segundo ataque (SAR). Este ciclo, em conjunto aos eventos “superdisseminadores” (cultos religiosos fechados e grandes baladas), representam perto de 80% da transmissão.

Passamos um ano falando sobre aglomerações nas ruas mas o inimigo está em casa, quer seja nas festas ou na convivência familiar com aqueles que se contaminaram nas festas. É por aí que a infecção se alastra.

Lugares abertos, por sua vez, têm mostrado que não interferem na curva pandêmica. Quem não se lembra da multidão nas ruas argentinas para o enterro de Maradona ou das imagens de praias aglomeradas em 7 de setembro no Brasil? Estão entre os exemplos que não impactaram a curva. Ambientes controlados como restaurantes, shoppings, comércio em geral, trabalho e escolas não têm sido grandes catalisadores. Os protocolos implementados ali parecem ter dado resultado.

O transporte público, por paradoxal que pareça, também não tem se mostrado grande alastrador da infecção. O comportamento retraído das pessoas que usam máscaras e falam pouco durante o percurso, além da ventilação pelas paradas recorrentes e abertura das portas, podem explicar o baixo índice.

A combinação da fadiga com a dinâmica heterogênea da transmissão tem comprometido a eficácia das restrições, e as medidas não têm sido suficientes para o controle da pandemia, nem sustentáveis no médio e logo prazos. Daí vem a necessidade de medidas menos traumáticas e sustentáveis. É passada a hora de inovar.

Propomos duas alternativas:

Campanha educativa para o comportamento: a Mobilidade Consciente, como atribuiu o infectologista Bernardo de Almeida do HC de Curitiba em um dos nossos debates. De nada tem adiantado os apelos dramáticos para a população se isolar. O fechamento das praias e parques leva a aglomerações em lugares improvisados clandestinos. Quem deixa de ir a restaurantes e shoppings, se aglomera dentro das casas. Impõe-se feriados para diminuir mobilidade, e as confraternizações se espalham.

Nossa proposta é mudar radicalmente a abordagem:

1) substituir o “fique em casa” por uma nova fase de comunicação;

2) instruir a população sobre onde estão os principais riscos de transmissão;

3) eleger as proteções prioritárias;

4) recomendar ajustes de comportamento social para escolhas conscientes;

5) nas comunidades vulneráveis envolver a Atenção Primária e líderes comunitários para que a informação chegue de forma simples e objetiva às comunidades.

Atuação sobre os infectados: a segunda iniciativa é criar medidas para conter o Rt atuando sobre os casos positivos. Em tese, é uma atuação muito mais focada uma vez que, no período de pico, representam no máximo 0,5% da população. A Alemanha contabiliza metade dos casos por milhão de habitantes dos demais europeus e a principal iniciativa que a difere é o rastreamento e atuação de contenção nos infectados.

Os desafios são grandes, não temos a infraestrutura da Alemanha. Mas se investirmos e estimularmos debates, podemos superá-los. Celso Granato, infectologista e professor da Escola Paulista de Medicina defende que este investimento passe por um planejamento detalhado.

Também acreditamos no envolvimento da Atenção Primária (AP) para elaborar a tática de atuação nas comunidades. Além de uma testagem intensa, os principais passos para implementação seriam:

1) para os casos positivos, discutir redução do prazo de isolamento para sete dias e assim aumentar a chance de adesão. Estudos mostram que 95% da transmissão ocorre até o 5º dia após o início dos sintomas;

2) discutir alternativas, em conjunto com líderes comunitários e AP, de incentivos e apoio para os que precisam se isolar;

3) por meio dos casos, buscar identificação dos eventuais contatos, usando tecnologia e a própria estrutura da AP;

4) criar alternativas de quarentena por cinco dias, que é o período médio de incubação, segundo estudos recentes. Quando a quarentena não for possível, cuidados especiais para contenção do potencial infectado com acompanhamento via telemedicina pela AP ou médicos;

5) complementar renda para os isolados e uma campanha educativa intensa também são componentes críticos para o sucesso desta alternativa.

A reação precisa ser urgente. O tempo está contra todos nós.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas