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Descrição de chapéu câncer

Diagnóstico precoce do câncer de pulmão, como ocorreu com Rita Lee, é exceção no Brasil

Doença foi detectada em exame de rotina; tratamento com imunoterapia, como fez a cantora, não é difundido no SUS

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São Paulo

Uma nova foto de Rita Lee, 75, que viralizou nas redes sociais nesta terça (14) inspirou homenagens de famosos e reacendeu a curiosidade dos fãs sobre a cantora, que vive reclusa em um sítio e recentemente passou por um tratamento oncológico ainda pouco acessível para pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde).

A artista recebeu o diagnóstico de câncer de pulmão em maio de 2021, após exames de rotina. Na ocasião, os médicos constataram que se tratava de um tumor maligno localizado no pulmão esquerdo, e o tratamento adotado foi uma combinação de radioterapia e imunoterapia. Menos de um ano depois, em abril de 2022, a família anunciou a remissão do câncer.

Segundo médicos e pesquisadores, o caso da cantora difere do que geralmente ocorre no Brasil por dois aspectos: foi diagnosticado em um exame de rotina e tratado com imunoterapia. Rita Lee fez tratamento no Hospital Israelita Albert Einstein, e a imunoterapia ainda não é encontrada em larga escala no serviço público.

A cantora Rita Lee em foto publicada por seu marido, Roberto de Carvalho, na segunda-feira (13) - Reprodução/Instagram

"Na saúde suplementar, o tratamento do câncer de pulmão no Brasil é tão bom quanto o oferecido nos países desenvolvidos, mas quando vamos para o SUS o gap pode chegar a 20 anos, porque os pacientes não têm acesso ao diagnóstico molecular [que especifica o subtipo do câncer] e o acesso à terapia-alvo e à imunoterapia é limitado a algumas instituições", afirma Carlos Gil Ferreira, presidente da SBOC (Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica).

Quando o câncer é diagnosticado no início, o tratamento padrão é a cirurgia, que pode ou não ser associada à radioterapia ou à quimioterapia. Em casos mais avançados, porém, há evidências de que as terapias personalizadas podem ser agregadas e contribuir para o tratamento.

"São terapias direcionadas para cada tipo de tumor. Diferentemente de uma quimioterapia, que ataca todas as células que se reproduzem rápido, essas modalidades identificam e atacam apenas as células malignas", explica Marcos Nunes, gestor do setor de oncologia no Hospital Leforte Morumbi.

Em janeiro, Carlos Gil Ferreira e outros oncologistas publicaram um estudo sobre as diferenças na oferta de tratamento. De acordo com a pesquisa, enquanto o gasto estimado para disponibilizar as opções mais modernas para combate ao câncer de pulmão avançado ultrapassa R$ 729 mil por paciente, o SUS possui uma verba de R$ 8.000. Assim, seria necessário investir cerca de R$ 13 bilhões por ano para mudar a situação na rede pública.

"Precisamos trabalhar juntos para que esse gap seja diminuído. Esse é um desafio grande para a nova gestão do Ministério da Saúde, para a SBOC e para os outros atores envolvidos com o câncer de pulmão", diz Ferreira.

Diagnóstico e tratamento de câncer de pulmão

De acordo com o Inca (Instituto Nacional de Câncer), o câncer de pulmão foi responsável por 28.620 mortes no país em 2020. Neste ano, a estimativa é de que sejam diagnosticados 18.020 novos casos em homens, e 14.540 em mulheres.

Trata-se do terceiro tipo de câncer mais comum no sexo masculino (7,5% das ocorrências), atrás apenas do câncer de próstata (30%) e do câncer de cólon e reto (9,2%). Entre as mulheres, é o quarto tipo de neoplasia mais comum (6% dos casos). Em primeiro lugar aparece o câncer de mama (30,1%), seguido por cólon e reto (9,7%) e colo do útero (7%).

"É um câncer com alta mortalidade, porque na maioria das vezes o diagnóstico é feito de forma tardia", afirma Nunes.

Geralmente, o paciente só apresenta sintomas da doença quando ela está em estágio avançado, e é comum confundi-los com problemas que acometem fumantes. O tabagismo e a exposição passiva ao tabaco são os principais fatores de risco para o desenvolvimento de câncer de pulmão.

"Existem de 25 a 30 subtipos de câncer de pulmão. Desses, 80% a 85% estão diretamente relacionados ao tabaco", afirma Ferreira.

Sintomas

Os sinais e sintomas mais comuns do câncer de pulmão são tosse persistente, escarro com sangue, dor no peito, rouquidão, piora da falta de ar, perda de peso e de apetite e pneumonia recorrente ou bronquite, além de cansaço e fraqueza. Nos fumantes, outro indício é a alteração do ritmo habitual da tosse, com crises em horários incomuns.

"Cerca de 75% dos casos são diagnosticados em estágios localmente avançados, quando a doença já atingiu uma dimensão maior, ou como doença metastática. Isso limita as possibilidades de tratamento e piora o prognóstico", afirma Gustavo Prado, coordenador da comissão científica de câncer de pulmão da SBPT (Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia).

Por causa da alta prevalência da doença e da dificuldade de diagnóstico precoce, há um entendimento entre os médicos de que seria importante implementar um sistema de rastreamento periódico, como existe para o câncer de mama e o câncer de colo do útero.

A recomendação seria a realização anual de exame de tomografia com baixa dose de radiação para pessoas acima de 50 anos com histórico de consumo de cigarro.

"Estamos mobilizando a comunidade médica para instrumentalizar os tomadores de decisão no Executivo e no Legislativo para a elaboração de estratégias de rastreamento para a nossa população", diz Prado.

Ele lembra que os esforços governamentais de combate ao tabagismo estão dando resultado —o câncer de pulmão é o único tipo de neoplasia em que a probabilidade de morte prematura (de pessoas de 30 a 69 anos) deve cair o suficiente nos próximos anos para se aproximar da meta da ONU (Organização das Nações Unidas)—, mas reforça que ainda há uma série de desafios a serem vencidos em relação ao diagnóstico precoce e à universalização do tratamento.

"O Brasil é um país modelo em prevenção e controle do tabagismo, mas ainda tem muita coisa para ser resolvida do ponto de vista do diagnóstico e da jornada do paciente", acrescenta o pneumologista.

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